Aprende-se mais com a experiência que não produz o resultado esperado, que com o êxito. O insucesso não é coisa para evitar, antes para cultivar. Aplica-se a norma aos cientistas, empresários, engenheiros, músicos, arquitectos, pintores, escultores, atletas e mais um ror de actividades. Há excepções, como a Medicina e a Política, embora nestes casos também se aprenda assim frequentemente. Disso nos queixamos agora.
Contudo, o insucesso está mal
visto. É ícone de fraqueza, de incompetência, de asnice, estigma impeditivo de
nova oportunidade. Tenho um colega que esteve três anos nos Estados Unidos a
preparar a tese de doutoramento, a bota da parte experimental não deu com a
perdigota da teoria e foi tudo por água abaixo, o mesmo que para o lixo. Não
pode ser!
Experimente alguém que tem
pachorra de me ler mandar um artigo para publicação numa revista, a contar que
experimentou isto ou aquilo e foi tudo um flop, mesmo que a notícia do flop
seja muito mais importante que um sucesso—leva uma corrida em pêlo e, no
mínimo, um atestado de oligofrenia.
Não é esta conversa apologia
da asneira, absolvição da estupidez; não senhor. O sucesso deve ser perseguido
e constituir objectivo racional com probabilidade de ser alcançado. Não se
aprende nada ao verificar que, saltando do quinto andar, não ficamos a pairar
no espaço, mas nos estatelamos no chão. Mas aprende-se constatando que um
medicamento usado na infecção de um órgão, por exemplo a pele, não funciona
noutro órgão, mesmo que o agente responsável seja o mesmo—é bom fazer constar
isso.
Relacionada com esta
ideia, há outra igualmente importante: a verificação de até onde chega a verdade
resultante da experiência com sucesso. Há coisas que funcionam bem dentro de determinados
limites, mas fora falham. Ou seja, explorar o insucesso do sucesso, se assim me
faço entender. É tão importante o engenheiro saber que o cálculo da viga dá
garantia de segurança naquela obra, como saber até onde funciona a validade do cálculo em obra diferente. Estou a falar de coisas que não
percebo, mas o exemplo parece bom e os engenheiros que me desculpem se estou a
asnear.
Em suma, há quem resuma a ideia numa frase simples, a reter porque importante: O hábito de estudar o insucesso, bem como o seu culto, é o melhor e mais eficaz caminho para o sucesso.
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