quinta-feira, 17 de abril de 2014

ERA UMA VEZ UM BARQUINHO PEQUENINO

.

Vive-se  em época de inteligência colectiva. O tempo dos sábios acabou. Sabe-se cada vez mais de cada vez menos e cada um está dependente de um sistema de competências individuais combinadas muito perigoso. Para se perceber do que falo, recordo a recente situação de mudança de século. Computadores e Internet estavam feitos para funcionar com números de data até 1999. Ia entrar-se no ano 2000 e era necessário saber se isso não provocaria problemas em tudo que é controlado pelas duas coisas, eventualmente o caos universal nas redes de distribuição eléctrica, nas comunicações, no controlo do tráfego aéreo, na manobra das naves espaciais e rebabá. E então?—perguntar-se-á.  Então, com tantos especialistas e superespecialistas, ninguém conseguia ter a certeza  do que ia acontecer? É verdade! Ninguém! Correu bem por acaso.
As estruturas modernas existentes nasceram por sucessiva justaposição de sistemas. Cada um tem os seus métodos próprios de controlo, já de si muito complicados. Junte-se tudo em cadeia, bata-se em castelo, leve-se a lume brando e sai daí um cozinhado impenetrável. Não há cabeça nem máquina capaz de perceber tal pitéu.
O pior é que a tendência é para a situação se agravar. Não estou preocupado com essa coisa trivial de já não saber mexer num electrodoméstico de há três anos, tipo receptor de televisão, telefone, ou máquina de lavar loiça; muito menos se for do mês passado. Mas estou preocupado se o controlador aéreo do avião em que viajo começa a ter dificuldade em trabalhar com tanta tecnologia, ou se o mesmo acontece aos homens que vigiam o nível das barragens, o sistema GPS e cangalhadas similares e correlativas. Vai ser uma espiga.
Sabem qual é o problema? Passo a explicar. É necessário criar sistemas informáticos para controlar os controladores, sistemas esses controlados por controladores controlados por sistemas informáticos que controlam os controladores e rebabá.
Era uma vez um barquinho pequenino que andava, que andava a navegar. Passaram duas, três semanas, e o barquinho sempre, sempre, a navegar. Era uma vez um barquinho pequenino que andava, que andava a navegar. Passaram duas, três, quatro semanas e o barquinho sempre, sempre a navegar. Era uma vez um barquinho pequenino... 

.

Sem comentários:

Enviar um comentário