Vive-se em época
de inteligência colectiva. O tempo dos sábios acabou. Sabe-se cada vez mais de
cada vez menos e cada um está dependente de um sistema de competências individuais
combinadas muito perigoso. Para se
perceber do que falo, recordo a recente situação de mudança de século.
Computadores e Internet estavam feitos para funcionar com números de data até
1999. Ia entrar-se no ano 2000 e era necessário saber se isso não provocaria
problemas em tudo que é controlado pelas duas coisas, eventualmente o caos
universal nas redes de distribuição eléctrica, nas comunicações, no controlo do
tráfego aéreo, na manobra das naves espaciais e rebabá. E então?—perguntar-se-á. Então, com tantos especialistas e
superespecialistas, ninguém conseguia ter a certeza do que ia acontecer? É verdade! Ninguém! Correu bem por acaso.
As estruturas modernas existentes nasceram por sucessiva
justaposição de sistemas. Cada um tem os seus métodos próprios de controlo, já
de si muito complicados. Junte-se tudo em cadeia, bata-se em castelo, leve-se a
lume brando e sai daí um cozinhado impenetrável. Não há cabeça nem máquina capaz
de perceber tal pitéu.
O pior é que a tendência é para a situação se agravar.
Não estou preocupado com essa coisa trivial de já não saber mexer num
electrodoméstico de há três anos, tipo receptor de televisão, telefone, ou máquina
de lavar loiça; muito menos se for do mês passado. Mas estou preocupado se o controlador
aéreo do avião em que viajo começa a ter dificuldade em trabalhar com tanta
tecnologia, ou se o mesmo acontece aos homens que vigiam o nível das barragens,
o sistema GPS e cangalhadas similares e correlativas. Vai ser uma espiga.
Sabem qual é o problema? Passo a explicar. É necessário
criar sistemas informáticos para controlar os controladores, sistemas esses
controlados por controladores controlados por sistemas informáticos que
controlam os controladores e rebabá.
Era uma vez um barquinho pequenino que andava, que andava
a navegar. Passaram duas, três semanas, e o barquinho sempre, sempre, a
navegar. Era uma vez um barquinho pequenino que andava, que andava a navegar. Passaram
duas, três, quatro semanas e o barquinho sempre, sempre a navegar. Era uma vez
um barquinho pequenino...
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