segunda-feira, 14 de abril de 2014

GENTE COM 'BALLS'

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A 5 de Novembro de 1914, Carl Hans Lody, alemão de 37 anos,  escreveu uma carta ao comandante do 3º Batalhão de Granadeiros da Guarda, agradecendo sinceramente a companhia e o tratamento recebido dos militares seus subordinados. Às 7 da manhã do dia seguinte, o Exército Britânico deu a resposta. No meio de cerrado nevoeiro, Lody foi levado da cela 29 da Torre de Londres, colocado na extremidade de uma longa barraca de madeira que servia de armazém e executado por um pelotão de fuzilamento, enquanto um capelão, com as mãos a tremer, lia em voz alta um livro de preces.
Com um tiro de misericórdia, disparado pela pistola do oficial encarregado da operação, o 1º tenente da Reserva Naval Imperial Alemã Lody foi a primeira pessoa a ser abatida na Torre de Londres depois de 167 anos sem execuções. Foi também o primeiro de 11 espiões alemães ali fuzilados durante a Primeira Guerra Mundial.
Lody, que tinha vivido na América e falava inglês fluente e correcto com sotaque americano, espiava os movimentos de uma base naval britânica, tendo as suas informações permitido a um submarino alemão afundar o navio "Pathfinder" da Royal Navy. Enviava relatórios em cifra muito "careca" para a Noruega, que o MI5 decifrava facilmente antes de os fazer seguir. Com o tempo, tornou-se descuidado e o MI5 chegou a interceptar cartas escritas em alemão. Era propósito do MI5 fazer dele um agente duplo. Porém, quando percebeu ter sido descoberto, fugiu para a Irlanda onde foi preso. Julgado, confessou a qualidade de espião e foi condenado à morte.
À família escreveu numa carta: "A morte no campo de batalha é seguramente melhor, mas tal não me aconteceu e morro no território do inimigo, silencioso e anónimo. Tive juízes justos e morrerei como oficial, não como espião".
No dia da execução, era o mais calmo dos protagonistas. Quando o capelão—nervosíssimo—se enganou no caminho, foi Lody quem o tomou pelo braço e o colocou na posição correcta. E quando perguntou ao ofical da Polícia Militar se apertava a mão a um espião alemão, este respondeu: "Não! Mas aperto a mão a um homem corajoso".
Não há qualquer intenção de tirar conclusões do narrado, aliás minuciosamente descrito num jornal inglês, o "The Independent". Decidi incluir este resumo porque me parece a história extraordinária. Não é fácil ser gente de espinha direita. Mas há. Em toda a parte. Este é um caso.
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