A 5 de Novembro de 1914, Carl Hans Lody, alemão de 37
anos, escreveu uma carta ao comandante
do 3º Batalhão de Granadeiros da Guarda, agradecendo sinceramente a companhia e o
tratamento recebido dos militares seus subordinados. Às 7 da manhã do dia
seguinte, o Exército Britânico deu a resposta. No meio de cerrado nevoeiro, Lody foi levado da cela 29 da Torre de
Londres, colocado na extremidade de uma longa barraca de madeira que servia de
armazém e executado por um pelotão de fuzilamento, enquanto um capelão, com as mãos a tremer, lia em voz alta um livro de preces.
Com um tiro de misericórdia, disparado pela pistola do
oficial encarregado da operação, o 1º tenente da Reserva Naval Imperial Alemã
Lody foi a primeira pessoa a ser abatida na Torre de Londres depois de 167 anos
sem execuções. Foi também o primeiro de 11 espiões alemães ali fuzilados durante
a Primeira Guerra Mundial.
Lody, que tinha vivido na América e falava inglês fluente e correcto com sotaque americano, espiava os movimentos de uma base naval britânica, tendo
as suas informações permitido a um submarino alemão afundar o navio "Pathfinder" da
Royal Navy. Enviava relatórios em cifra muito "careca" para a Noruega, que
o MI5 decifrava facilmente antes de os fazer seguir. Com o tempo, tornou-se descuidado
e o MI5 chegou a interceptar cartas escritas em alemão. Era propósito do MI5
fazer dele um agente duplo. Porém, quando percebeu ter sido descoberto, fugiu
para a Irlanda onde foi preso. Julgado, confessou a qualidade de espião e foi
condenado à morte.
À família escreveu numa carta: "A morte no campo de
batalha é seguramente melhor, mas tal não me aconteceu e morro no território do
inimigo, silencioso e anónimo. Tive juízes justos e morrerei como oficial, não
como espião".
No dia da execução, era o mais calmo dos protagonistas.
Quando o capelão—nervosíssimo—se enganou no caminho, foi Lody quem o tomou pelo
braço e o colocou na posição correcta. E quando perguntou ao ofical da Polícia
Militar se apertava a mão a um espião alemão, este respondeu: "Não! Mas
aperto a mão a um homem corajoso".
Não há qualquer intenção de tirar conclusões do narrado,
aliás minuciosamente descrito num jornal inglês, o "The Independent".
Decidi incluir este resumo porque me parece a história extraordinária. Não é fácil ser gente
de espinha direita. Mas há. Em toda a parte. Este é um caso.
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