sexta-feira, 4 de abril de 2014

OLHA QUE COISA MAIS LINDA

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A discriminação de raças, de religiões, de convicções políticas é geralmente considerada condenável; mas a discriminação de pessoas feias passa incólume na sociedade actual. Nem sequer é falada, mas existe—embora possa ser inconsciente. Ocorre na avaliação de alunos por professores, nas decisões judiciais, sobretudo quando há júris, na eleição de políticos, na selecção de candidatos a emprego e por aí fora.
O problema não é actual. Era notório e assumido na Grécia clássica. Dizia o historiador suíço Jacob Burckhardt que os gregos não só eram enviesados pela beleza, como exprimiam convictamente o seu valor e manifestavam-no claramente na arte. Na Ilíada, quando Tersites põe em causa a autoridade de Agamémnon,  Ulisses atira-lhe: "De todos os que aqui vieram, não há nenhum homem mais feio que tu"—Tersites tinha joelhos varos, era coxo dum pé, marreco e parcialmente calvo, com algum cabelo que parecia uma ovelha mal tosquiada. A estatuária grega é o que sabemos: imortaliza os atletas em formas de quase deuses. E o viés era tão notório que chegava ao ponto de pouparem a vida a soldados inimigos, quando impressionados pela sua beleza.
Sócrates—o genuíno, não o Zezito!—era feio, dizem, e opunha-se a tal critério, naturalmente. Opinava que a verdadeira beleza era espiritual e assim seduzia rapazinhos bem parecidos, alguns lamentando mesmo a sua falta de beleza mental.  
Julgar pessoas pela beleza é como avaliar um livro pelo aspecto da capa. É verdade. Mas Nietzsche, que era esperto e cínico, dizia a propósito: "Não há melhor maneira, para uma personagem se vingar da cultura que toma a beleza por nobreza, senão redefinir a beleza como qualidade interior possuída apenas por intelectuais". A favor de Sócrates—não o Zezito!—Nietsche admitia que a superioridade intelectual traz felicidade e esta traz a beleza. É verdade. Todos conhecem carinhas larocas, estúpidas e más como meteoritos. Tal é fatal, para pôr um pouco de rima na conversa. George Orwell dizia—e muito bem, acrescentaria o Dr. Soares—que aos 50 anos, todos têm a cara que merecem. É isso mesmo—a natureza a trabalhar de dentro para fora!
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