Em 1984, o psiquiatra Aaron Katcher e o seu staff colocaram
um aquário na sala de espera de uma clínica dentária, retirando-o em dias
alternados. Depois, estudaram o comportamento das pessoas durante as
intervenções terapêuticas e constataram que suportavam muito melhor o stress
dos tratamentos nos dias em que o aquário estava presente. Katcher concluiu que
a presença dos peixes tinha efeito calmante na amostra estudada. Também Judith
Heerwagen, em 1990, verificou o mesmo efeito com um mural da natureza noutra sala
de espera de dentistas. Há mais experiências feitas com vídeos em salas de
dadores de sangue e rebabá e os resultados são sobreponíveis. Serve a conversa
para dizer que a natureza e o natural têm impacto psicológico no Homo sapiens.
Chegados aqui, perguntar-se-á: o que é natureza, o que é
natural? E a porca torce o rabo. Natureza e natural era o mundo antes do
homem começar a alterá-lo? Porquê tal ideia? Todos os seres vivos alteram o
mundo e só as alterações antropogénicas são anti-naturais, ou anti-natureza? É
burrice tal ideia!
Natureza e natural é todo o mundo material. É verdade!
Incluindo o bosque em frente da sua casa, o mar da Costa de Caparica, a bosta
fresca de vaca a libertar metano, o ar cheio de gases dos escapes dos automóveis
de Pequim, os vazadouros de lixo de Nova-Delhi e a água de Fukushima contaminada
com produtos radioactivos. Assim pensa o poeta e ambientalista americano Gary
Snyder e penso eu também, dado importante.
O que faz sentirmo-nos bem com a visão de peixes e outros
animais, como referido nas experiências citadas no início, é a nossa relação
genética com a vida (vida biológica para ser preciso, embora redundante), a que o psicólogo social alemão Erich Fromm chamou
bibliofilia. A noção implica ligação e atracção genética por seres vivos que
existiram e evoluíram muito antes de nós e estão ainda incluídos parcialmente no
nosso genoma. É o lugar comum do regresso inconsciente às origens que nos faz
gostar e sentirmo-nos bem com a visão do peixinho vermelho da sala, do
periquito, do gato, do cágado e do dragão da Indonésia na marquise. Tal e qual!
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