Rui
Ramos, a respeito do escândalo da Operação Labirinto (ainda serão tais coisas
escândalos?), escrevia há dois dias que algumas boas almas acham o ocorrido prova de que a
Justiça funciona. Triste consolação esta! Como diz Ramos, depois do Face Oculta
e episódios similares, o grave é o facto do funcionamento da Justiça não constituir
factor dissuasor de trafulhices ao mais alto nível no Estado. E cito: «As
escutas, as prisões, o aviltamento mediático, as sentenças—nada disso os terá
feito pensar, hesitar, desistir». E acrescenta: «Podemos fazer todo o escarcéu sobre a corrupção.
Podemos ameaçar com as mais severas punições para os culpados. O que não
podemos, de facto, é esperar que alguma máquina de vigilância e exautoração
substitua o sentido individual do dever e da honra. Onde este não existe, não
há concurso, escrutínio, vigilância ou
dissuasão que 'funcionem'.»
Aqui reside o problema
básico. A política e a administração pública foram infiltradas por gente sem
escrúpulos, aventureiros sem mérito, sem ética e sem vergonha, capazes de
arriscar o pior. Não temem pôr em causa o bom nome porque nunca o tiveram.
O mais grave é que o
fenómeno está a generalizar a ideia de equivalência entre política, ou
administração, e trafulhice—diz-me se és político, ou administrador, e
dir-te-ei se és trafulha é anexim de consumo corrente. Olhe-se para autarquias,
parlamento, governo central e por aí fora e negue-se o juízo. Tal afasta quem
tem um pingo de vergonha na cara e não quer arriscar a reputação, passar por
lobo com pele de cordeiro, ou fazer parte da choldra, como diria Eça. Assim se
vão os melhores, deixando a escória para nos conduzir da melhor forma...
para eles!
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