O Governo actual é um aborto. O facto é do conhecimento geral—como diziam os antigos, mete nojo aos cães. E não é só aos lulus das marquesas. Mesmo os rafeiros com pulgas e peladas tinhosas passam ao largo para evitar o mau hálito do executivo. Mas tal Governo está em exercício legal nos termos da Constituição que pela Graça do Altíssimo nos rege. Até aqui está tudo certo.
Hoje, ou ontem, Manuel Alegre, membro do Conselho de Estado e "histórico" socialista para
os jornalistas, mais conhecido por poeta Alegre, declarou ao DN: (i) Que Cavaco Silva não está a garantir o regular funcionamento
das instituições; e (ii) Que
"Nunca se viu nada assim na história
da democracia portuguesa, mas este Governo sabe que beneficia de
impunidade, porque o Presidente da República não quer dissolver a Assembleia da
República e convocar eleições legislativas antecipadas", rebabá.
Chegados a este ponto, constata-se que há dois conceitos de regular
funcionamento das instituições. De acordo com o primeiro, o Presidente não deve
dissolver o Parlamento quando o Governo asneia alarvemente se esse Governo for
socialista, verbi gratia, presidido
por um janota como o Zezito, timoneiro do surto de progresso meteórico que a
Nação conheceu e terminou em estado agónico no regaço da troika. Mas deve
fazê-lo quando governo não é socialista, mesmo que apoiado por maioria no
Parlamento, como fez o Chorinha. É uma questão subtil de ética republicana, difícil
de explicar a quem não é socialista, mas é mesmo assim.
Primeiro faz-se uma Constituição mais comprida que
"Os Irmãos Karamazov", cheia de direitos, liberdades e garantias e
detalhes quase infinitos para que ninguém a leia ou compreenda. Depois
perora-se sobre o que o Presidente deve fazer com base naquele xarope jurídico.
E está bom de ver que, mesmo com tal prolixidade, ficou muita margem para
interpretação e as únicas entidades competentes para a interpretar são os
militantes da ética republicana, como o Poeta Alegre e o Dr. Soares. Assim, se
eles dizem que o funcionamento das instituições não está a ser normal, quem
somos nós para os mandar à merda?
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