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Não sou um apreciador devoto de Miguel Sousa Tavares,
antes pelo contrário. Mas, tal como o relógio parado está certo duas vezes por
dia, Sousa Tavares também acerta às vezes no cravo—não dá sempre ferradura. No
"Expresso", a respeito da crise actual, hoje escreve assim:
[...] Acima de tudo, o que a crise revelou foi que a pirâmide
que comandava o sistema assentava numa elite de bandidos internacionais, que se
reúnem todos os anos em selectos fóruns onde combinam entre si a partilha do
saque e cujas empresas lhes pagam fortunas pornográficas para apresentarem
lucros, nem que sejam arrancados a
sangue. Ou seja, que o sistema estava podre, abocanhado por gente sem qualquer
sensibilidade social, sem qualquer preocupação de seriedade ou de ética nos
negócios, movidos apenas por uma ambição sem limite nem vergonha. [...]
Sousa Tavares fala das conferências de Bilderberg, coisa
mais sinistra que a Maçonaria, em que europeus e americanos se reúnem todos os
anos, com excepcionais medidas de segurança, em fóruns "para discussão
informal das grandes tendências e principais assuntos que o mundo enfrenta"—onde
está "que o mundo enfrenta" leia-se "que aquela centena e meia de gente
pouco recomendável enfrenta".
Para o quadro ser completo, acrescente-se que a
informação ali bebida "pode ser usada livremente, mas sem revelar a
identidade e a filiação dos oradores ou dos participantes". É preciso
mamar de mansinho, sem fazer muito barulho.
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