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A estranha imagem em cima, de um documento do Século XIV, diz respeito ao que se chamou “Julgamentos por Provação” ― e passo a explicar: Durante mais de 400 anos, do Século IX ao início do Século XIII, nalguns países da Europa, em casos judiciais em que a prova do crime era difícil, praticava-se a chamada “Prova Judicial” ― uma vez que só Deus e o julgado conheciam a verdade, se este não confessava, pedia-se a ajuda a Deus. E o meio de o fazer consistia numa de duas maneiras.
Na primeira, colocavam um objecto no fundo de um caldeirão com água a ferver e ordenava-se ao suposto réu que o retirasse com a mão e antebraço sem qualquer protecção. Se o julgado estivesse inocente e a dizer a verdade, não sofria qualquer queimadura, pois Deus por isso zelava. Se fosse culpado, ficava com o membro “cozido”.
Outra modalidade consistia em aquecer um objecto metálico até estar “em brasa” e ordenar ao suposto réu que pegasse nele sem qualquer protecção. Se fosse inocente, não ficava com a mão queimada, se fosse culpado, rebabá…
Dir-se-á que nunca havia absolvições com tão sofisticado meio de prova, pior que as acusações pós 25 barra 4. Mas havia!... O ritual referido tinha lugar nas igrejas, durante a celebração da missa, e muitos padres, conscientes da enormidade daquela pessegada, faziam batota: Punham a água a ferver, ou o ferro a aquecer, antes bastante da missa começar e arrastavam a celebração o suficiente para arrefecerem antes de cozer ou grelhar o pobre do julgado.
Achamos estranho tudo isto? Claro que achamos ― mas não vá o leitor muito longe porque assiste hoje a coisas que, daqui a séculos, fazem a mesma figura ― e mais não digo.
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