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[...] No Brasil,
durante os encontros de vozes "alternativas" que antecederam a
Cimeira Rio+20, de resto duas notáveis oportunidades para o humor inadvertido,
BSS [Boaventura Sousa Santos] falou. E
explicou que a Europa precisa de aprender com os maravilhosos exemplos do
Terceiro Mundo, experiência de que foi privada devido a séculos de
colonialismo. Tradução: a menos que a Alemanha e a Inglaterra imitem os
fraternais regimes da Bolívia ou da Venezuela, a Alemanha e a Inglaterra estão
perdidas. A título de punch line, acrescentou ser necessário lutar contra a
concentração de riqueza e o abismo entre ricos e pobres, eventualmente
adoptando o modelo "bolivariano" e arruinando toda a gente.
É ou não é brilhante?
O pior é que este estilo de comédia também é arriscado: muitos brasileiros não
percebem o humor de BSS e tomam-no por um pensador de facto e não pela
caricatura de uma sátira a uma paródia de um pensador. Ricardo Araújo Pereira
apresenta-se como humorista e tem graça. A vastíssima maioria dos restantes humoristas
indígenas apresenta-se como tal e não tem gracinha nenhuma. BSS apresenta-se
como "cientista social" e suscita a estupefacção dos não iniciados,
que hesitam entre levar aquilo à letra ou usufruir do seu potencial hilariante.
E o melhor de tudo passa
pelo facto de não sabermos se o próprio BSS se leva igualmente a sério. A
sério, só isto: sempre que se lamenta a fuga de cérebros do país, convém
contrabalançá-la com a fuga de malucos. Infelizmente, estes regressam logo a
seguir.
Alberto Gonçalves in
"Diário de Notícias"
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