"A História é um
banho de sangue", escreveu William James que acrescenta: "O homem moderno herdou a agressividade inata
dos antepassados e a admiração pela glória militar. Mostrar-lhe a irracionalidade
da guerra não a evita. O horror fascina-o. Guerra é força, é vida in extremis.
Os impostos de guerra são os únicos que paga sem hesitar, como mostram os orçamentos de todas
as nações".
Seremos sanguinários por natureza e a competição grupo-versus-grupo
terá feito de nós aquilo que somos: pouco agressivos dentro da tribo e muito
agressivos com as tribos vizinhas. Quase todas as nações têm feriados para
celebrar guerras, cerimoniais para homenagear combatentes, monumentos e estátuas
com os heróis imortalizados em pedra, cemitérios dedicados aos mortos em
combate.
O último século terá sido o da Guerra Total, com a primeira
e segunda guerras mundiais, a da Coreia, do Vietname, e outras menores, e um
total estimado de 187 milhões de mortos. Mas estudos arqueológicos recentes sugerem
quadros ainda mais negros em sociedades de caçadores-recolectores há mais de 10.000 anos. A guerra nessa altura
era o mecanismo de equilibrar as populações com o espaço e os recursos. É bem
provável que continue a sê-lo de forma discretamente encapotada.
Desde o fim da II Guerra Mundial, os conflitos violentos
entre nações diminuíram substancialmente, em consequência, sobretudo, da dissuasão atómica. Em contrapartida,
aumentaram as guerras civis, as revoluções, e o terrorismo apadrinhado por
estados. É a guerra do espaço e dos recursos com nova roupagem, travada maioritariamente
por interpostas pessoas. As grandes guerras foram substituídas pelas pequenas,
mas continuam a ser guerras com os mesmos tiques de homenagem ao combatente, o
mesmo espírito de tribo, a mesma auto-absolvição da violência praticada em nome
do colectivo a que se pertence e por quem se peleja.
O problema é a luta pelo controlo do espaço e recursos ser
cada vez maior, à medida que a globalização traz novas populações ao banquete.
Dificilmente o Homo sapiens saberá refrear o instinto bélico e
repartir irmãmente e sem luta o muito que tem com o Homo sapiens que tem pouco ou
nada.
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