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"José
Saramago dizia que escrevia para desassossegar. Nós estamos aqui para
desassossegar também." As palavras são de Pilar del Río, que não é uma
actriz de telenovelas venezuelanas mas a "presidenta" (não se riam)
da Fundação que, a expensas do património público, a Câmara de Lisboa cedeu ao
escritor. É plausível que o tal desassossego, pelo menos o dos cidadãos
impotentes, venha daí.
Mas não só.
Eu sinto-me um nadinha desassossegado quando se presta tamanha vassalagem a uma
personalidade conhecida por reverenciar ditaduras e, sempre que possível,
aplicar os métodos das ditaduras aos infiéis que o rodeavam (ver por exemplo o
ilustre currículo de saneamentos promovidos pelo artista enquanto jovem
serviçal do PREC). Uma coisa é uns escandinavos anónimos darem ao sr. Saramago
o Nobel, outra é o Estado português dar à memória do sr. Saramago e à viúva do
sr. Saramago a Casa dos Bicos.
Ao que li na
internet, alguns surpreenderam-se com o facto de os bilhetes de entrada na
Fundação serem pagos, uma cedência ao vil comércio trivial em quem defendia a
partilha mas não partilhou os direitos de autor nem o milhão do Nobel. A mim
surpreendeu-me a existência de gente interessada em contemplar, mesmo de borla,
o espólio do sr. Saramago e, a título de brinde (no terceiro andar), a alegada
biblioteca do seu amigo Vasco Gonçalves, outro saudoso combatente contra a
liberdade. Espero que os três livros caibam.
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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