quarta-feira, 27 de junho de 2012

A MULHER DE CÉSAR

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O repugnante Ricardo Rodrigues, deputado do PS, vice-presidente da respectiva bancada no Parlamento e mais umas quantas pessegadas que não  interessam, foi julgado por ter assumido, durante uma entrevista à comunicação social, atitude ridiculamente inaceitável quando confrontado com perguntas sobre o possível  envolvimento em casos de pedofilia nos Açores. Ricardo Rodrigues foi condenado, mas não se demitiu do lugar de deputado e de todas as inerências dessa condição, como faria pessoa com alguma dignidade: apenas pediu suspensão dos cargos que exerce na direcção do grupo parlamentar do PS, provavelmente por imposição do partido que não o pode excluir da Assembleia da República contra sua vontade.
O homem não pode perder o lugar de deputado porque não sabe o que o espera depois e não sai pelo seu pé. Entretanto, vai recorrer da sentença que o condenou e iniciar o longo processo que na Justiça portuguesa conduz em linha recta à prescrição dos crimes, a duvidosa absolvição por um juiz inspirado na Lei das Doze Tábuas, ou até a coisa nenhuma, além do esquecimento de toda a trampa.
Em Portugal abundam os casos de figuras em lugares públicos de relevo sobre quem caem suspeitas de comportamentos ilícitos graves e vivem na maior das  impunidades; ou de personagens envolvidas em  processos com trânsito em julgado que não atam nem desatam e acabam em águas de bacalhau, ou são mesmo encerrados por terem fossilizado.
A opinião pública está esclarecida sobre tudo e, ao contrário do que dizem uns tantos líricos profetas  da ética republicana, não faz juízos precipitados e infundados. O povo conhece-os de ginjeira, usa até de inexplicável tolerância com eles e atura-os, mesmo sabendo que são uns trafulhas. E sabe também que o provado em tribunal e a realidade são coisas bem diferentes. Antes não bastava à mulher de César ser séria. Agora não precisa sequer de ser séria quanto mais  parecê-lo: basta ser absolvida por um tribunal português.
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