Falava ontem de citações a respeito de Arquimedes e da
finalidade dos fenómenos naturais, ou da provável ausência dela. Pode ter
ficado a ideia que não gosto de citações, mas não: sou um admirador militante
de citações por vários motivos.
Primeiro, porque representam muitas vezes pontos de vista
originais e inteligentes sobre factos comuns. Depois, porque são quase sempre
sínteses bem conseguidas. Finalmente, porque a forma é frequentemente excelente - flashes literários de primeira água.
Quando se diz que "Ajuda internacional é um
empréstimo dos pobres dos países ricos aos ricos dos países pobres", está lá
tudo. E que "Revolução é uma opinião apoiada em baionetas", ou que "Leva
muito tempo a tornarmo-nos jovens", também.
Mas o que mais se aprecia é a forma. Por exemplo, Yo soy yo y mi circunstancia, escreveu
Ortega y Gasset. O brilho está na forma e isso explica as ene vezes que a frase
foi e continua a ser reproduzida em todas as línguas.
No fundo, o pensamento não traz nada de novo nem é assim
tão profundo. Diz apenas que somos o
fruto do património genético, expresso no temperamento, e da experiência
da vida. Mas duas coisas são geniais na expressão: a síntese perfeita e o
estilo literário superior.
Dizer que somos o que a natureza fez de nós na forma de "eu
sou eu", e chamar à experiência "minha circunstância" é de mestre: brilho de supernova.
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