terça-feira, 19 de junho de 2012

CONFABULAÇÃO


Confabulação, genericamente, refere-se ao acto de conversar, contar fábulas e coisas assim. Em Psiquiatria é um sintoma complicado de algumas doenças mentais que não interessa agora esmiuçar. De forma geral, usa-se o termo confabulação quando há explicação de factos e fenómenos de forma desligada da realidade.
Dizer, como se disse em tempos,  que o movimento ondulatório da luz se propaga num meio chamado "éter",  por analogia com as ondas aquáticas e sonoras que se propagam em meios materiais,  é confabulação porque não existe "éter" nenhum. Acontece, simplesmente,  que a luz pode propagar-se no vácuo.
Dir-se-á então que confabulação é coisa de mentirosos, trapalhões e ofícios correlativos; mas não é: todos confabulamos diariamente. Peço desculpa pela indelicadeza, mas o leitor também confabula, se a existência do leitor a quem me dirijo neste preciso momento não for confabulação minha. Confabulamos em quê? Passo a explicar porque é simples.
Ninguém conhece verdadeiramente a causa do comportamento que tem. Todos têm explicação para o que fazem, mas é tudo inventado e quase sempre incompleto e parcialmente falso. Vou contar um fenómeno do domínio da Neurociência que ajuda a perceber o que digo.
Os dois hemisférios cerebrais estão ligados e há funções da actividade mental que dependem simultaneamente de centros situados em ambos os  lados. Por vezes, a conexão bilateral é interrompida por actos cirúrgicos ou acidentes. Mostrando uma fotografia engraçada, uma anedota, ou outra coisa qualquer parecida a um doente desses, ele ri. Esta resposta depende do hemisfério direito. Se lhe perguntarmos porque ri, ele sabe que está a rir mas, como a explicação depende do outro hemisfério, não sabe porquê. Então, confabula e diz que se ri porque lhe contamos coisas divertidas.
Isto acontece diariamente a gente dita normal.  Há comportamentos que são determinados por fenómenos subconscientes ou inconscientes, sem que tenhamos noção disso. Mas estamos sempre prontos a explicá-los com os melhores argumentos e excelentes razões. E o mais curioso é que acreditamos no que dizemos. À falta de explicação, como o doente com dissociação dos hemisférios, arranjamos uma que esteja à mão e já está. Convenhamos que somos um bocado toscos!
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