O homem considera-se diferente dos animais porque diz ter
corpo e espírito, o que é verdade se considerarmos que espírito é uma capacidade
mental muito superior. Tal capacidade depende da actividade do órgão chamado
cérebro, que os animais também têm e não parece qualitativamente diferente,
embora quantitativamente muito inferior.
O cão tem memória, tem vida afectiva evidente e aprende a desempenhar tarefas
simples, mas não é capaz de fazer raciocínios matemáticos, de praticar a agricultura,
ou cozer os alimentos. Tem espírito minúsculo, ou rudimentar melhor dizendo.
Nada nos diz que, com mais alguns milhões de anos, as
coisas não mudem, ou seja, que o cão não venha a compor sinfonias e jogar xadrez e o homem não volte às cavernas;
embora, em boa verdade, alguns ainda de lá não tenham saído. O quadro actual
das características da vida na Terra é um flash da evolução do universo em
constante mutação, qual Heráclito, que não
tomava banho duas vezes no mesmo rio e que, quando saía do dito, já não era o
mesmo que lá tinha entrado.
Dada a fugacidade da nossa existência, temos uma visão
quase estática do cosmos, de que somos parte insignificante inimaginável. Não
nos apercebemos das mudanças que levam eternidades a processar-se, considerando a bitola temporal que é a nossa e usamos. No turbilhão de violentos e brutais fenómenos
cósmicos ocorrendo a cada segundo, o homem é um protagonista precário e eventualmente
transitório a que só o pensamento religioso pode dar sentido. Na legítima ausência da fé, deve considerar-se
simples pó de estrela e assumir a inevitabilidade do fim como indivíduo e também,
provavelmente, como espécie. Na circunstância
de viver depois da morte, não está compreendida a forma de tal sobrevivência: é
a mente sem cérebro? Não sei. Nunca percebi.
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