quinta-feira, 14 de junho de 2012

SOMOS PÓ DE ESTRELA

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O homem considera-se diferente dos animais porque diz ter corpo e espírito, o que é verdade se considerarmos que espírito é uma capacidade mental muito superior. Tal capacidade depende da actividade do órgão chamado cérebro, que os animais também têm e não parece qualitativamente diferente, embora quantitativamente  muito inferior. O cão tem memória, tem vida afectiva evidente e aprende a desempenhar tarefas simples, mas não é capaz de fazer raciocínios matemáticos, de praticar a agricultura, ou cozer os alimentos. Tem espírito minúsculo, ou rudimentar melhor dizendo.
Nada nos diz que, com mais alguns milhões de anos, as coisas não mudem, ou seja, que o cão não venha a compor sinfonias e jogar  xadrez e o homem não volte às cavernas; embora, em boa verdade, alguns ainda de lá não tenham saído. O quadro actual das características da vida na Terra é um flash da evolução do universo em constante mutação, qual Heráclito,  que não tomava banho duas vezes no mesmo rio e que, quando saía do dito, já não era o mesmo que lá tinha entrado.
Dada a fugacidade da nossa existência, temos uma visão quase estática do cosmos, de que somos parte insignificante inimaginável. Não nos apercebemos das mudanças que levam eternidades a processar-se, considerando a bitola temporal que é a nossa e usamos. No turbilhão de violentos e brutais fenómenos cósmicos ocorrendo a cada segundo, o homem é um protagonista precário e eventualmente transitório a que só o pensamento religioso pode dar sentido. Na  legítima ausência da fé, deve considerar-se simples pó de estrela e assumir a inevitabilidade do fim como indivíduo e também, provavelmente, como espécie.  Na circunstância de viver depois da morte, não está compreendida a forma de tal sobrevivência: é a mente sem cérebro? Não sei. Nunca percebi.

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