Um professor de Filosofia Teológica, citado por Jim Holt,
a propósito de uma pergunta sobre a razão de existência do mundo, fez a
seguinte afirmação: Deus é tão perfeito que não precisa de existir.
Em aparte, digo que a frase é exemplo do que penso da Teologia,
depois do pouco que tenho lido (confesso) — ciência abstracta, que explica
noções abstractas com argumentos abstractos, apoiados em abstracções de outros
teólogos, por sua vez baseadas em razões abstractas, com abstracções em cadeia até
à abstracção final, qual é a de explicar a razão com essa mesma razão.
Martin Amis, romancista americano, interrogado um dia na
televisão sobre quando poderemos explicar cientificamente como apareceu o
universo, disse concretamente que estamos, pelo menos, a cinco Einsteins disso.
Cinco Einsteins parece-me pouco — provavelmente, tende para o
infinito tal número. Não creio que alguma vez se perceba a génese do mundo. Se um
dia se conseguir ir ao minuto que precedeu o Big Bang, ficam por explicar todas
as horas anteriores. E se percebermos essas horas, blá, blá, blá.
O problema para a ciência é que o universo compreende
tudo que existe fisicamente. E as explicações científicas têm de envolver
causas físicas e as causas físicas são parte do que queremos explicar. Como
diria Baptista Bastos na sua forma soberba, procuramos arranjar a explicação em
círculo "concêntrico", quase tão "concêntrico" como o das
explicações teológicas.
E quando lia o livro de Holt sobre a razão da existência
do universo, leitura que me sugeriu esta reflexão, lembrei-me do Biocentrismo
de Robert Lanza, já citado neste espaço. Lanza considera que o universo é concebido
pela vida —
de forma tosca, diríamos que é construção do nosso cérebro, que há um universo
para cada cérebro, incluindo os animais, muito diferentes uns dos outros,
dependendo da forma como funcionam os sentidos que levam a informação do meio
ao sistema nervoso central. A ser assim — universo igual a fenómeno subjectivo —,
as coisas complicam-se: mesmo à escala cósmica, não há tempo bastante para
gerar Einsteins que cheguem para explicar esta cangalhada onde existimos.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário