sábado, 4 de agosto de 2012

A CAUSA DAS COISAS

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Um professor de Filosofia Teológica, citado por Jim Holt, a propósito de uma pergunta sobre a razão de existência do mundo, fez a seguinte afirmação: Deus é tão perfeito que não precisa de existir. 
Em aparte, digo que a frase é exemplo do que penso da Teologia, depois do pouco que tenho lido (confesso) — ciência abstracta, que explica noções abstractas com argumentos abstractos, apoiados em abstracções de outros teólogos, por sua vez baseadas em razões abstractas, com abstracções em cadeia até à abstracção final, qual é a de explicar a razão com essa mesma razão.
Martin Amis, romancista americano, interrogado um dia na televisão sobre quando poderemos explicar cientificamente como apareceu o universo, disse concretamente que estamos, pelo menos,  a cinco Einsteins disso.
Cinco Einsteins parece-me pouco — provavelmente, tende para o infinito tal número. Não creio que alguma vez se perceba a génese do mundo. Se um dia se conseguir ir ao minuto que precedeu o Big Bang, ficam por explicar todas as horas anteriores. E se percebermos essas horas, blá, blá, blá.
O problema para a ciência é que o universo compreende tudo que existe fisicamente. E as explicações científicas têm de envolver causas físicas e as causas físicas são parte do que queremos explicar. Como diria Baptista Bastos na sua forma soberba, procuramos arranjar a explicação em círculo "concêntrico", quase tão "concêntrico" como o das explicações teológicas.
E quando lia o livro de Holt sobre a razão da existência do universo, leitura que me sugeriu esta reflexão, lembrei-me do Biocentrismo de Robert Lanza, já citado neste espaço. Lanza considera que o universo é concebido pela vida — de forma tosca, diríamos que é construção do nosso cérebro, que há um universo para cada cérebro, incluindo os animais, muito diferentes uns dos outros, dependendo da forma como funcionam os sentidos que levam a informação do meio ao sistema nervoso central. A ser assim — universo igual a fenómeno subjectivo —, as coisas complicam-se: mesmo à escala cósmica, não há tempo bastante para gerar Einsteins que cheguem para explicar esta cangalhada onde existimos.
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