O princípio de
Occam, "ou navalha de Occam", de que já falámos, diz — mais ou menos — que, entre duas teorias para
explicar um fenómeno, se tudo for igual, a mais simples é, provavelmente a
correcta. A afirmação tem sabor a
palpite e, embora a prática científica tenha dado quase sempre razão a Occam,
não está definitivamente provado que seja verdadeira. Seja como for, a investigação
actual continua a reger-se pelo princípio e não se tem dado mal com ele.
Mesmo na
vida corrente, serve. Se surgisse uma
teoria de que a vida ia desaparecer no Hemisfério Sul e outra de que iria desaparecer
no Hemisfério Norte, se a primeira fosse muito complicada e a segunda simples, o
movimento de fuga seria maior de Norte para Sul que ao contrário, ninguém tem
dúvidas sobre isso. O princípio de Occam — também chamado da parcimónia ou da
economia — vai ao encontro da natureza humana, provavelmente porque também vai
ao encontro da natureza em geral. Esta, quase sempre — ou sempre — abstém-se de
redundâncias.
Occam era um
monge franciscano inglês que viveu no Século XIV e não lhe pode ter passado
pela cabeça que a sua "navalha" iria ser uma arma importante no
arsenal dos ateus. Richard Dawkins, provavelmente o expoente máximo da militância
mundial dos ateus, serve-se dele frequentemente, mesmo sem invocar o autor. Diz
Dawkins que as realidades complicadas são mais improváveis que as simples e,
por isso, carecem de mais explicações. Por exemplo, a vida — atribuí-la a um
Deus capaz de planear o universo de forma rigorosa para condicionar a evolução
dos seres vivos até ao estado actual, é criar uma entidade improvável e de enorme
complexidade, a necessitar de maior explicação do que o que queremos explicar. É
a simplicidade da evolução natural que faz dela a mais satisfatória teoria para
explicar a vida.
As concepções
filosóficas sobre o universo, a vida e as religiões é matéria para espíritos
com disponibilidade de tempo para tais especulações. São exercícios mentais úteis,
indispensáveis até. O que ensombra tais discussões é a excessiva militância
levada ao intolerável. Andam por aí
textos, de qualquer dos lados, que nem com uma mola no nariz se suportam — são
o melhor argumento para os oponentes, está bom de ver.
Este post
pretende servir de introdução a um excelente artigo de revisão sobre ateísmo,
publicado no site da BBC, em Outubro de 2009. Para quem puder lê-lo, digo que
vale a pena, pela clareza e neutralidade com que está redigido. Este é o link para lá.
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