sábado, 11 de agosto de 2012

NAVALHA DE OCCAM


O princípio de Occam, "ou navalha de Occam", de que já falámos, diz — mais ou menos — que, entre duas teorias para explicar um fenómeno, se tudo for  igual, a mais simples é, provavelmente a correcta. A afirmação tem sabor a palpite e, embora a prática científica tenha dado quase sempre razão a Occam, não está definitivamente provado que seja verdadeira. Seja como for, a investigação actual continua a reger-se pelo princípio e não se tem dado mal com ele.
Mesmo na vida corrente, serve. Se surgisse uma teoria de que a vida ia desaparecer no Hemisfério Sul e outra de que iria desaparecer no Hemisfério Norte, se a primeira fosse muito complicada e a segunda simples, o movimento de fuga seria maior de Norte para Sul que ao contrário, ninguém tem dúvidas sobre isso. O princípio de Occam — também chamado da parcimónia ou da economia — vai ao encontro da natureza humana, provavelmente porque também vai ao encontro da natureza em geral. Esta, quase sempre — ou sempre — abstém-se de redundâncias.
Occam era um monge franciscano inglês que viveu no Século XIV e não lhe pode ter passado pela cabeça que a sua "navalha" iria ser uma arma importante no arsenal dos ateus. Richard Dawkins, provavelmente o expoente máximo da militância mundial dos ateus, serve-se dele frequentemente, mesmo sem invocar o autor. Diz Dawkins que as realidades complicadas são mais improváveis que as simples e, por isso, carecem de mais explicações. Por exemplo, a vida — atribuí-la a um Deus capaz de planear o universo de forma rigorosa para condicionar a evolução dos seres vivos até ao estado actual, é criar uma entidade improvável e de enorme complexidade, a necessitar de maior explicação do que o que queremos explicar. É a simplicidade da evolução natural que faz dela a mais satisfatória teoria para explicar a vida.
As concepções filosóficas sobre o universo, a vida e as religiões é matéria para espíritos com disponibilidade de tempo para tais especulações. São exercícios mentais úteis, indispensáveis até. O que ensombra tais discussões é a excessiva militância levada ao intolerável. Andam por aí textos, de qualquer dos lados, que nem com uma mola no nariz se suportam — são o melhor argumento para os oponentes, está bom de ver.
Este post pretende servir de introdução a um excelente artigo de revisão sobre ateísmo, publicado no site da BBC, em Outubro de 2009. Para quem puder lê-lo, digo que vale a pena, pela clareza e neutralidade com que está redigido. Este é o link para lá.
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