Falei ontem do livro de Jim Holt intitulado "Why Does the World Exist?" que está a ser
matéria de crítica e discussão na imprensa internacional, sobretudo norte-americana.
Ainda não li muito por falta de oportunidade, mas o que li promete. Para dar
ideia, transcrevo — em tradução livre e tosca; Holt me desculpará — o início,
em que o tema é introduzido: um bom texto, como se pode adivinhar, mesmo com tradução
pindérica que nem me atrevo a publicar em itálico.
Fui um ingénuo e rebelde
estudante do liceu na Virgínia. Como os
estudantes ingénuos e rebeldes às vezes fazem, comecei a interessar-me pelo existencialismo,
filosofia que me parecia boa para a insegurança de adolescente.
Certo dia, fui à
biblioteca da universidade local e passei a vista por alguns volumes com
aspecto imponente: "O Ser e Nada", de Sartre, e a "Introdução à Metafísica", de
Heidegger. Foi nas primeiras páginas do último, com título promissor, que me vi confrontado pela primeira vez com a
pergunta Porque há alguma coisa, em vez de absolutamente nada? Posso ainda recordar
o tremendo efeito que teve em mim. Ali estava a última e superior questão,
anterior a todas as outras que a humanidade alguma vez pôs. Onde tinha andado
até aí toda a minha vida intelectual (reconhecidamente breve)?
Diz-se que a
pergunta é tão profunda que só podia ocorrer a um metafísico, mas tão simples
que só uma criança a faria. Era muito novo para ser metafísico. Porque não fiz
a pergunta em criança? Olhando para trás, a resposta era óbvia. A curiosidade
metafísica natural tinha sido sufocada pela educação religiosa. Desde a mais
tenra idade, que me foi dito — pelos meus pais, pelas freiras que me ensinavam
na escola primária e pelos frades franciscanos do convento na colina em frente
da nossa casa — que Deus criou o mundo e que o criou a partir do nada. Essa era
a razão porque o mundo existia. Também a razão porque eu existia. Porque
existia o próprio Deus era deixado de forma um pouco vaga. Ao contrário do
mundo finito que criou livremente, Deus era eterno. Era também todo-poderoso e
detentor da perfeição em grau infinito. Assim, não precisava de nenhuma
explicação para a sua existência. Sendo omnipotente deve ter-Se lançado a Si
próprio no mundo. Para usar a frase latina, causa sui.
Era a história que me tinha sido ensinada em
criança. Também aquela em que acredita a maioria dos americanos. Para estes
crentes, não há tal coisa como o "mistério da existência". Se lhes
perguntarem porque existe o universo, dirão que existe porque Deus o fez. E se
a pergunta for Porque existe Deus?, a resposta depende do grau de sofisticação teológica
que têm.
Podem dizer que
Deus se fez a Si próprio, que é a base da Sua existência, ou que a existência
faz parte da Sua essência. Podem também dizer que as pessoa que fazem tais
perguntas ímpias serão queimadas no Inferno.
Mas, supondo que
se pergunta a não crentes porque existem as coisas em vez de nada, a
probabilidade maior é de não ter resposta capaz.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário