A história tem perfil de anedota, mas não é tal porque
encerra um conceito filosófico complicado. Ocupa-se da origem da fé que mesmo
os teólogos actuais consideram não ser um fenómeno com origem na razão. Os
argumentos clássicos para provar a existência de Deus estão em baixo. Pegue-se
no raciocínio cosmológico de que o universo não pode existir pela sua própria
natureza e carece de outra entidade para o explicar, entidade que existirá,
essa sim, pela sua própria natureza e a
que se chama Deus. É fraca a conversa e nem vale a pena explicar porquê.
Podemos dizer que não é possível demonstrar a existência
de Deus—é verdade. Mas também não é possível demonstrar que não existe. Consequentemente,
não há decisão racional na fé, mas também não a há no ateísmo. Pode mesmo
dizer-se que este é também uma fé. E
aqui é que entra a história de Bohr—há mil razões para ter fé, cada pessoa tem fé por uma razão particular, só dela, e
muitos têm fé, just in case, como Bohr tinha na ferradura. É legítimo.
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