domingo, 28 de outubro de 2012

NÃO FAÇAS AOS OUTROS . . .

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A geoengenharia utiliza conhecimentos científicos ao serviço da tecnologia para estudar e manipular características do planeta, no bom e no mau sentido. Por exemplo, se o aquecimento global resulta da combustão industrial em grande escala de combustíveis fósseis, com aumento do dióxido de carbono na atmosfera, estamos em presença dum fenómeno de geoengenharia mau, colateral e de evitar. Mas tal tipo de fenómeno inspira gente no sentido de tomar medidas do mesmo tipo para melhorar o ambiente. E aqui é que começam a surgir dúvidas sobre a legitimidade de, no estado actual do conhecimento, metermos mãos à obra em tarefas com consequências a longo prazo e horizonte não esclarecidos.
Há semanas, um empresário americano chamado Russ George, teve a iniciativa de alugar um navio de pesca e lançar 120 toneladas de ferro em pó nas águas das ilhas de Haida Gwaii, ao largo do Canadá. A ideia é de o ferro aumentar muito o plâncton marinho, animal e vegetal, o qual fixa dióxido de carbono—em última análise vindo do ar—dióxido que é sepultado no fundo do mar com a morte desses seres vivos. É uma técnica teórica falada e respigada, cujas consequências a longo prazo não se conhecem.
Bill Gates tem uma empresa—"Intellectual Ventures"—a desenvolver uma mangueira, com cerca de 30 km de comprimento, para suspender em balões de hélio e injectar partículas de dióxido de enxofre no céu, capazes de diminuírem a intensidade da radiação solar e reduzir a força dos furacões, à semelhança do que fazem as erupções vulcânicas. E há quem estude técnicas de "branquear" as nuvens para aumentar a reflexão da radiação do Sol e arrefecer a Terra. Tudo coisas esquisitas e, pior que esquisitas, potencialmente perigosas.
A natureza não dá nada de graça e há a possibilidade de aquilo que se melhora eventualmente num lugar ser acompanhado de consequências deletérias noutros pontos do globo, nomeadamente no regime de monções na Ásia e África, com secas devastadoras e por aí fora.
Conhecemos o bicho homem e sabemos como os grandes interesses económicos conseguem passar por cima dos interesses dos "outros". E não seria surpresa que uns tratassem de melhorar a vidinha deles com estas técnicas, à custa da desgraça alheia. O homem do Restelo não está sempre errado—quanto mais avançamos na tecnologia, mais ele vai tendo razão. Infelizmente.
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