sexta-feira, 26 de outubro de 2012

PORQUE SER CARIDOSO ?

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Diz quem é cínico que caridade, bem-fazer e filantropia são formas de egoísmo mascaradas de virtude. É forte esta! Segundo tais pensadores, são formas contrárias ao darwinismo porque, pela lógica da selecção natural, toda a tendência para comportamento desinteressado é prejudicial à luta pela sobrevivência.
Em boa verdade, as coisas podem não ser tão simples porque ajudar membros da mesma espécie—neste caso o Homo sapiens—contribui para a sua conservação e propagação. É uma forma de darwinismo colectivo, acima da perspectiva individual, a selecção natural do grupo. Ao que se pode juntar o que se chama altruísmo recíproco—"coça-me as costas, que eu coço-te as tuas". Os morcegos vampiros regurgitam o sangue que beberam para o repartir com os outros, menos felizes na procura de alimento.
Mas há uma terceira hipótese para explicar o altruísmo em termos da selecção: a reputação de generosidade melhora a imagem, é potencialmente útil no futuro, que é incerto para todos,  e pode ajudar a esquecer actos menos limpos do passado—é própria dos detentores de bens obtidos por meios menos lícitos que compram o bom nome com a filantropia. Muitas anedotas sobre grandes filantropos passam-se ou situam-nos frequentemente no Inferno depois de mortos.
Por último, fica a razão cultural. Neste aspecto pesarão muito  as convicções religiosas e até filosóficas. Para dizer a verdade, acho que a caridade ou a filantropia têm muito a ver com a cultura e pouco com a biologia ou selecção. Como ser consciente, o homem tem frequentemente comportamentos contra o instinto—isso o distingue dos outros seres vivos.
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