Em boa verdade, as coisas podem não ser tão simples porque ajudar membros da mesma espécie—neste caso o Homo sapiens—contribui para a sua conservação e propagação. É uma forma de darwinismo colectivo, acima da perspectiva individual, a selecção natural do grupo. Ao que se pode juntar o que se chama altruísmo recíproco—"coça-me as costas, que eu coço-te as tuas". Os morcegos vampiros regurgitam o sangue que beberam para o repartir com os outros, menos felizes na procura de alimento.
Mas há uma terceira hipótese para explicar o altruísmo em termos
da selecção: a reputação de generosidade melhora a imagem, é potencialmente
útil no futuro, que é incerto para todos, e pode ajudar a esquecer actos menos limpos do
passado—é própria dos detentores de bens obtidos por meios menos lícitos que
compram o bom nome com a filantropia. Muitas anedotas sobre grandes filantropos
passam-se ou situam-nos frequentemente no Inferno depois de mortos.
Por último, fica a razão cultural. Neste aspecto pesarão muito as convicções religiosas e até filosóficas.
Para dizer a verdade, acho que a caridade ou a filantropia têm muito a
ver com a cultura e pouco com a biologia ou selecção. Como ser consciente, o
homem tem frequentemente comportamentos contra o instinto—isso o distingue dos
outros seres vivos.
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