segunda-feira, 22 de outubro de 2012

NÚMEROS DA ÉTICA

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Estima-se que as bombas atómicas americanas lançadas no Japão pelo Presidente Truman mataram entre 120.000 e 250.000 civis japoneses. É muita gente morta, sem dúvida. Mas tais bombardeamentos, diz-se, evitaram mais mortes do que as que causaram. A isto chama-se teoria ética do utilitarismo segundo a qual é legítimo sacrificar X vidas para salvar Y vidas, desde que X seja inferior a Y—matemática da morte!
A matemática da morte, além de ser macabra, é estúpida. Por exemplo, se nos disserem que Paul Pot matou 2 milhões de cambojanos, achamos muito. Se alguém corrigir e disser que foram mais, seja por exemplo 2 milhões e um, encolhemos os ombros e achamos  a correcção uma cretinice. Contudo, esse um tem o mesmo valor que o da notícia do jornal, esmagado ontem pela queda dum muro e nos impressionou deveras—diluída em 2 milhões perde importância a tragédia?
Hitler matou muita gente, o  Zé Stalin matou mais e Mao ainda mais. Hitler foi menos criminoso que Stalin e este menos que Mao? Tem a pergunta resposta? Pode, inclusivamente, fazer-se tal pergunta? Não tem nem pode.
A matemática da morte é legítima para fins demográficos, sociológicos, históricos, sanitários e por aí fora, mas nunca em apreciações éticas. A ética é um valor qualitativo que não se avalia com números—só tem duas dimensões: ou existe, ou não existe.
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