O aquecimento global é hoje para
os media o que seria a peste negra do Século XIV, se já houvesse jornais, televisão
e Net. A coisa começa a assumir foros de despautério quando ainda existem dúvidas
sobre o putativo problema que é o aquecimento, "parado"—sem
explicação cabal—desde o princípio do Século. A imagem em cima encabeça um artigo publicado no site "The Atlantic" e, como pode ver-se,
equaciona-se a possibilidade de combater o aquecimento através do controlo da
natalidade. O raciocínio é simples: quantas mais almas houver, mais gases com
efeito estufa se produzem, seja através da actividade industrial, dos transportes,
da bosta de vaca, do arroto humano e por aí fora. Portanto, se se entupir as parideiras, a coisa melhora. E os fieis da nova religião termométrica vão
mesmo ao ponto de fazer cálculos projectivos, afirmando que a diminuição da
população pode conduzir a "benefícios" equivalentes a 16 a 29 por
cento da redução necessária para evitar que a temperatura suba 2 graus Celsius
até 2050. Não é uma ternura?
Acontece que a explosão
demográfica actual ocorre sobretudo em África e na Ásia e, se excluirmos a
China, não é nesses locais que se produzem mais gases com efeito estufa.
Exactamente onde a natalidade é menor, como na Europa, é onde a alegada poluição
é maior. Portanto, não é justa a proposta.
Para abordar o problema por
esta via, o controlo da natalidade não é conforme à razão. Todos têm direito a
nascer. Já viver demais parece injusto. Assim, seria mais avisado estabelecer
uma quota de carbono a cada cidadão, como já se pratica com as nações. Atingida
a quota, não digo que se elimine sumariamente o fulano—mas deve ser taxado: no
IRS, na pensão da segurança social, ou no IVA (taxa extraordinária para a
terceira idade, por exemplo). É a fiscalidade verde, está bom de ver. Aliás,
suspeito que tal ideia fervilha há mais de três anos no encéfalo do nosso
Primeiro-Ministro—Deus o abençoe e lhe dê muita saúde e anos de vida. Sem ultrapassar,
claro, a quota de carbono.
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