Anselmo Borges é padre católico, teólogo e professor de
Filosofia em Coimbra. Há muito tempo que leio a sua colaboração no "Diário
de Notícias" porque na época pré-Francisco era uma voz "fora da regra",
divergente da hierarquia esclerosada.
Na revista do "Expresso" de hoje pode ler-se
uma entrevista com dez perguntas ao padre Borges. Em dado ponto, interrogam-no:
"Consegue imaginar um homem como Jesus nos dias de hoje? Teria mão para tantos
vendilhões do templo?"
Borges responde assim: O Papa Francisco avançou há dias contra a Cúria como Jesus contra os
vendilhões. São palavras terríveis: que sofrem de “Alzheimer espiritual” e
“esquizofrenia existencial”, pensando-se “imortais, imprescindíveis”, movidos
pela “ganância” e pelo “carreirismo”... Nunca se tinha ouvido nada assim no
Vaticano. Mas Jesus não entraria no Vaticano, porque alguém o impediria de
entrar, estou convencido. E se forçasse a entrada, o que é que lhe aconteceria?
Dá que pensar. Este é que é o drama de Francisco.
Conversa corajosa e lúcida esta—assumir que a Cúria está cheia de
vendilhões do templo, de todo fora da Filosofia Cristã. Há anos que se sabe disso, mas o silêncio mantinha-se.
Era a obediência, o receio, a necessidade de respeitar a hierarquia que, por
seu lado, cultivava a situação, sintoma do tal Alzheimer espiritual.
Foi preciso vir um Papa dos confins do mundo, de um
País não europeu, para abrir as janelas do Vaticano, arejar o bafio, sacudir o
pó, matar os ratos, exterminar as baratas e lançar no ar desodorizante "Brise"—tudo
aquilo cheirava mal. E ainda cheira um bocado.
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