Ando claramente sob o jugo opinativo do Dr. Soares porque
os gregos não me saem da cabeça. É pena que ninguém pague as dívidas helénicas,
de forma a libertar-lhes o espírito para se ocuparem da civilização mais algum
tempo. Era um investimento que faria medrar o conhecimento colectivo, em
benefício de todos, quiçá resolver a crise europeia. Hoje debrucei-me, salvo
seja, sobre Heráclito, o pensador.
Dizia ele que ninguém toma duas vezes banho no mesmo rio
- essa coisa da água corrente, o rio sempre a mudar, blá, blá, blá. Está certo,
acho eu.
Pensando bem, Heráclito nem sequer podia dizer que tinha
tomado banho no rio. O fluxo incessante do universo, de que o pensador era
parte, fazia que quando saísse da água já não fosse o mesmo que lá tinha
entrado. Tudo mudava e muda a cada fracção de segundo, incluindo Heráclito,
cujos quarks, leptões, bosões e demais cangalhada subatómica fluíam e ainda
andam por aí a fluir. Quando o pensador abrisse a boca para falar do banho que
tinha tomado, estava a dizer uma mentira: quem tinha tomado banho era outro
cidadão, curiosamente também ele chamado Heráclito, mas não aquele que mentia
nesse exacto e preciso momento.
Onde está a cangalhada subatómica de Heráclito agora?
Ninguém sabe, mas anda por aí. Parte talvez numa gaivota, parte num saco de
plástico do Pingo Doce, parte em mim, no Zezito, no Relvas, sei lá. Deve ser
isso que chamam reincarnação. Há cada coisa!...
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