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[...] Se um antigo presidente da República necessita de recorrer ao dinheiro
alheio, o indivíduo não devia ter criado uma "fundação", mas um peditório à
escala nacional ou um crédito bancário. Se o chefe de um governo regional usa a
fundação social lá do sítio para comprar a casa onde o mesmo chefe viveu até aos
30 anos, é lícito supor que uma imobiliária teria maior vocação para o negócio.
Se um escritor editado e vendido no mundo inteiro é obrigado a pedir abrigo à
Câmara de Lisboa, convinha que os herdeiros do escritor pedissem contas ao
contabilista. Se uma empresa de computadores embolsa 454 milhões para produzir
uma geringonça inviável no mercado livre, constata-se que os empresários em
causa escolheram a profissão errada.
Sobretudo, constata-se que os contribuintes portugueses escolheram o país
errado, na medida em que aqui se limitam a fazer jus ao nome e contribuir em
prol do que outros decretaram ser o "bem comum". O comum é o bem de uns poucos
acabar patrocinado pelos restantes. Nas fundações e em tudo, é assim que
Portugal forma elites, que o dicionário define como os melhores de uma sociedade
e que por cá não são apenas os que melhor vivem à respectiva custa. Nesta
abençoada democracia, cada conceito beneficia de uma interpretação muito
própria, "democracia" incluído.
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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domingo, 5 de agosto de 2012
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