segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CIÊNCIA NÃO INFUSA

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Para espíritos tradicionalistas e conservadores, a ciência promove o materialismo sem religião. A sua persistência na procura de explicações para os fenómenos naturais, esvazia o mundo de significado moral e espiritual, diz-se. A teoria do Big Bang é o exemplo clássico.
Para a esquerda radical, a ciência é um suporte ideológico do capitalismo porque,  ao dar, alegadamente, a descrição da realidade, justifica—de forma encapotada—o domínio da burguesia, da raça branca e do sexo masculino!!!
Vaclav Havel, num dia de inspiração paroxística, teve um arrincanço: "A ciência moderna promove a abolição dos fundamentos do mundo natural, transformando-os em mera ficção: mata Deus e ocupa o seu lugar no trono vacante, tomando nas mãos a condução da ordem natural, como sua única e legítima guardiã, assumindo-se árbitro isolado da verdade fundamental".
É bonita a conversa, mas um bocadinho à Baptista Bastos, com as minhas desculpas a Bastos por o pôr ao nível "superficial" de Havel. Não se vê qualquer incompatibilidade da ciência e da religião, pelo menos das religiões monoteístas.  A ciência ocupa-se do "como", a religião do "porquê". Tal e qual!
Tudo quanto a ciência explica pode ter sido—ou não—organizado por um ser inteligente. Naturalmente que a ignorância e a iliteracia científica fomentam a fé; mas muito mal vai a religião se vive e se alimenta de obscurantismo e pretende calar a ciência. Nos Estados Unidos uma sondagem a investigadores científicos mostra que 4 em 10 têm fé. Se subirmos na escala da qualidade, incluindo apenas membros da "National Academy of Sciences", a proporção desce para 1 em 10. E, se ficarmos apenas com os biólogos,  95% são agnósticos ou ateus, o que dá 0,5 em 10. Parece haver, efectivamente, razão inversa entre a fé e a diferenciação científica. Mas a abordagem estatística não parece a melhor forma de optar em termos de fé religiosa—é complicado; muito complicado.
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