Para a esquerda radical, a ciência é um suporte ideológico do capitalismo porque, ao dar, alegadamente, a descrição da realidade, justifica—de forma encapotada—o domínio da burguesia, da raça branca e do sexo masculino!!!
Vaclav Havel, num dia de inspiração paroxística,
teve um arrincanço: "A ciência moderna promove a abolição dos fundamentos
do mundo natural, transformando-os em mera ficção: mata Deus e ocupa o seu
lugar no trono vacante, tomando nas mãos a condução da ordem natural, como sua única
e legítima guardiã, assumindo-se árbitro isolado da verdade fundamental".
É bonita a conversa, mas um bocadinho à Baptista Bastos,
com as minhas desculpas a Bastos por o pôr ao nível "superficial" de
Havel. Não se vê qualquer incompatibilidade da ciência e da religião, pelo
menos das religiões monoteístas. A
ciência ocupa-se do "como", a religião do "porquê". Tal e
qual!
Tudo quanto a ciência explica pode ter sido—ou não—organizado
por um ser inteligente. Naturalmente que a ignorância e a iliteracia científica
fomentam a fé; mas muito mal vai a religião se vive e se alimenta de
obscurantismo e pretende calar a ciência. Nos Estados Unidos uma sondagem a investigadores científicos
mostra que 4 em 10 têm fé. Se subirmos na escala da qualidade, incluindo apenas
membros da "National Academy of Sciences", a proporção desce para 1
em 10. E, se ficarmos apenas com os biólogos, 95% são agnósticos ou ateus, o que dá 0,5 em 10. Parece haver,
efectivamente, razão inversa entre a fé e a diferenciação científica. Mas a abordagem
estatística não parece a melhor forma de optar em termos de fé religiosa—é
complicado; muito complicado.
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