terça-feira, 16 de outubro de 2012

DE BAIXO PARA CIMA

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O mundo é um fenómeno organizado de baixo para cima. Começou a partir dum pontodentro duma esfera de diâmetro zero onde residia toda a massa/energiaque libertou partículas subatómicas capazes de se organizarem em protões, neutrões, electrões e em forças, que originaram átomos, moléculas, compostos orgânicos, proteínas, ADN, células procariotas, células eucariotas, seres muito simples e por aí fora, até ao homem, se considerarmos—pedantemente—que este é o ápice do universo, ou o fim do caminho.
Tudo é assim na vida. As línguas começaram provavelmente de forma  incipiente com alguns vocábulos para designar objectos concretos, a que se terão somado adjectivos, verbos não conjugados, nomes para ideias abstractas, verbos conjugados, masculino e feminino, blá, blá, blá, não necessariamente por esta ordem. O mesmo se aplica à evolução biológica e a quase tudo.
Mas muita gente—quase toda, diria—curiosamente, vê o mundo, ou comporta-se como se o mundo fosse  organizado cima para baixo. Tal viés, dizem, resulta do facto do homem criar e as suas obras terem para ele a perspectiva de cima para baixo—fruto do ser inteligente.
A primeira ideia que vem de tal viés é a da criação do mundo pelo ser inteligente dos criacionistas. Para estes, não há Big-Bang, não há expansão do universo, não há evolução biológica e por aí fora. Tudo começou como existe e assim ficará. Nem sequer admitem que tudo isso pode ser também fruto dum ser inteligente.
Mas também em matérias menos metafísicas o viés existe. Na economia, por exemplo, está na cara que ao longo dos séculos ela se organizou de baixo para cima, como a língua. E não faltam cabeças a tentar forçar a natureza com modelos teóricos falidos, de cima para baixo, de que o marxismo é exemplo recente; e não sei se o de Vítor Gaspar não é também—embora o ministro lixe os portugueses de baixo para cima e não de cima para baixo.
Os exemplos são muitos e não cabem num espaço destes: por exemplo, a política dava para um tratado e vale a pena reflectir nisso. Mas serve este pobre naco de prosa para alertar a navegação—cuidado como viés de cima para baixo porque é contra naturam.
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