Tudo é assim na vida. As línguas começaram provavelmente de forma incipiente com alguns vocábulos para designar objectos concretos, a que se terão somado adjectivos, verbos não conjugados, nomes para ideias abstractas, verbos conjugados, masculino e feminino, blá, blá, blá, não necessariamente por esta ordem. O mesmo se aplica à evolução biológica e a quase tudo.
Mas muita gente—quase toda, diria—curiosamente, vê o
mundo, ou comporta-se como se o mundo fosse organizado cima para baixo. Tal viés, dizem,
resulta do facto do homem criar e as suas obras terem para ele a perspectiva de
cima para baixo—fruto do ser inteligente.
A primeira ideia que vem de tal viés é a da criação do
mundo pelo ser inteligente dos criacionistas. Para estes, não há Big-Bang, não
há expansão do universo, não há evolução biológica e por aí fora. Tudo começou
como existe e assim ficará. Nem sequer admitem que tudo isso pode ser também
fruto dum ser inteligente.
Mas também em matérias menos metafísicas o viés existe.
Na economia, por exemplo, está na cara que ao longo dos séculos ela se
organizou de baixo para cima, como a língua. E não faltam cabeças a tentar
forçar a natureza com modelos teóricos falidos, de cima para baixo, de que o marxismo é exemplo
recente; e não sei se o de Vítor Gaspar não é também—embora o ministro lixe os
portugueses de baixo para cima e não de cima para baixo.
Os exemplos são muitos e não cabem num espaço destes: por
exemplo, a política dava para um tratado e vale a pena reflectir nisso. Mas
serve este pobre naco de prosa para alertar a navegação—cuidado como viés de
cima para baixo porque é contra naturam.
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