No tocante às manifestações de rua das duas últimas semanas, há que distinguir desde logo dois aspectos: o primeiro diz respeito à expressão espontânea de um grande descontentamento, quando não de verdadeiro desespero, da parte de uma população duramente atingida pela austeridade e em vias de perder a esperança no futuro; o segundo diz respeito a intenções de manipulação e demagogia de massas com vista a derrubar o Governo e as instituições democráticas.
O primeiro aspecto vale o que vale. Corresponde a uma válvula de escape de tensões, de expectativas frustradas, de apreensões muito sérias e também de ressentimentos acumulados, constituindo um poderoso indicador de mal-estar social que as forças políticas não podem deixar de tomar em conta.
O segundo aspecto
está agora a revelar explicitamente o seu claro remetente de esquerda e de
extrema-esquerda: interessa-lhe o descrédito total da democracia representativa
e da classe política, aposta numa espécie de legitimidade revolucionária que se
contraponha ao regular funcionamento das instituições e assume já sem rodeios
um conjunto de veleidades de subversão violenta incompatíveis com o Estado de
Direito. [...]
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Vasco Graça Moura in "Diário de Notícias"
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(Os sublinhados são meus)
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