Mas, se pensarmos e lermos o texto donde a frase foi tirada, da autoria de Andy Clark, professor de Filosofia na Universidade de Edinburgh, percebe-se que é um conceito inspirado, capaz de explicar muito do nosso comportamento. O cérebro usa sinais que nos chegam do meio ambiente para guiar a percepção, o pensamento e a acção porque tem armazenado conhecimento sobre a estrutura do mundo e sobre forma como os fenómenos se relacionam e encadeiam e, quando a informação parcial vinda do exterior lhe chega, integra-a nesse conhecimento e vê o resto que não lhe chega—não é preciso ver toda a floresta porque a visão de algumas árvores permite perceber que estamos em presença da floresta.
Tal desempenho mental é mau e bom. É mau porque está na base da" ideia feita", do preconceito, do juízo precipitado, da previsão errada e muitas outras calamidades psico-político-sociais, por exemplo. Mas a alternativa é complicada, constituída pelo raciocínio de baixo para cima, em que é preciso ver folhas, ramos e tronco para concluir que é a árvore, e muitas árvores para suspeitar que é a floresta, e ver a floresta toda a fim de confirmar que é, de facto, a dita. Pensar como o Tozé, em suma. Não há progresso científico, filosófico, social e por aí fora se não usarmos a mente como instrumento de previsão.
Muitos aspectos da
patologia mental são explicados pelo mecanismo em causa, verbi gratia as
alucinações e as falsas crenças da esquizofrenia, ou os vieses mentais de
aceitar cegamente o que pode ser facilmente demonstrado como falso—por exemplo,
acreditar que o Sporting vai ser campeão.
Como quase sempre, in
medio virtus, para dar um toque de erudição. Devemos usar, com toda a força
avante, a previsão mental instintiva pois isso nos faz mais rápidos e ágeis
intelectualmente. Mas quod gratis asseritur, gratis negatur, ou seja, o dito
sem fundamento pode negar-se sem fundamento. A afirmação do previsto mentalmente carece de reflexão prévia e comprovação.
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