Lorosa de Matos conseguiu enganar duas vezes a Justiça.
Em 2003, convenceu a família de Rui Pedro de que conhecia o paradeiro da
criança – e o Ministério Público (MP), convicto de que tinha de se fazer tudo
para resgatar o menino, conseguiu que lhe fosse concedida uma saída precária.
Passou a fronteira e só sete anos mais tarde, depois de ter ludibriado duas
magistradas com quem manteve um relacionamento, foi apanhado pelas autoridades.
Sónia Moreira e Sílvia Marques Bom, ambas
procuradoras-adjuntas do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de
Lisboa, acabam de ser acusadas de violação do sigilo profissional, falsificação
de documento e abuso de poder, entre outros crimes, por terem passado dados
pessoais de cidadãos e altos quadros da magistratura e da Polícia Judiciária
(PJ) ao burlão, que se fazia passar por coordenador da Interpol. [...]
O leitor estará a perguntar porque me lembrei, hoje e
neste espaço solene, de citar o livro "Lisboa em Camisa" do Gervásio
Lobato e eu compreendo-o. Mas não!... A prosa está estampada no jornal
"Sol" de 14 de Outubro—é verdade! Se fosse 1 de Abril,
passava à frente, talvez um nadinha indignado porque com coisas sérias não se
brinca, mas passava—contudo, hoje é o dia 14 de Outubro do Anno Domine 2012 e
Lobato já morreu há mais de um século. O enredo é actual.
Duas procuradoras-adjuntas do DIAP, dirigido pela
especialista em "afins" Dr.ª Cândida Almeida, mantiveram "um
relacionamento" com um burlão fugido da Justiça e passaram-lhe informações de altos quadros da magistratura e da Polícia Judiciária, obtidas ilicitamente, chegando a insinuar-se na notícia a ocorrência, em Manchester, dum ménage à
trois, um swinging, ou coisa edificante do género, com as duas, o Matos e um
tal Rui Novais.
Em boa verdade, não estou muito triste. Talvez até satisfeito
e grato à Divina Providência por me ter poupado até poder assistir a fenómenos
sociais assim que—julgava eu—só acontecem nos X-rated films. Portugal está na
vanguarda do progresso—endividado até aos colarinhos; em perigo de não pagar os
calotes; com uma elite dirigente cujo traseiro não suporta a rudeza dos bancos
dum "Clio"; um ex-Presidente que diz ir a austeridade "rebentar"
com o País; um ex-secretário de Estado e actual deputado que se queixa de ter
de viver às custas dos pais; o Zezito em Paris a pavonear-se com dinheiro de origem não esclarecida; e duas magistradas do Ministério Público—duas que
se saiba—a devassar por amor canalha a vida de altos quadros da magistratura e
da polícia.
Quando vier o Dilúvio, espero que me avisem.
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