Vida para além da
morte é convicção de crentes de
religiões monoteístas, diz-se. Será? Nem sempre.
Platão viveu
quatro séculos antes de Cristo e, para ele, o corpo era um composto que se decompõe
com a morte, mas a alma era simples e imortal. Curiosamente, no Antigo Testamento—diz quem o estuda—há poucas
referência à vida depois da morte. As recompensas e castigos invocados por
Moisés eram neste mundo e não no outro. Só já no início da era Cristã os fariseus começaram a falar nela, sob a
forma da ressurreição do corpo; e terá
sido S. Paulo a trazer ao Cristianismo a ideia de que os mortos ressuscitam.
Mas há quem não
alimente convicções religiosas e acredite na vida para além da morte, a que se
pode chamar a eternidade dos ateus. Intelectualmente, é difícil o ponto de vista. Há hoje a convicção de que o
"eu" é a consciência—cogito ergo sum—e a consciência é produto de
cérebro perecível, extinguindo-se a consciência com ele. É difícil perceber
o que fica depois da morte, na ausência da fé.
Há pouco mais de
um século, o filósofo americano William James propôs uma saída rebuscada.
Sabemos que a mente depende do cérebro, dizia, mas este é apenas um meio ou
veículo de comunicação entre uma entidade transcendente exterior a nós—mother
sea, para usar a expressão dele—e o mundo que habitamos. Como um aparelho de rádio
que transforma as ondas electromagnéticas em palavras ou música—se está
avariado a música é distorcida, ou pode mesmo não se ouvir, mas a emissão está
lá. Para ele, a morte era seguida da incorporação na mother sea, penso eu.
Outro teórico do
tema, Frank Tripler, professor de Teoria da Relatividade na Universidade de
Tulane , faz um raciocínio que se compreende melhor se pensarmos nas tentativas
já referidas aqui, de fazer reviver mamutes a partir dos seus genomas
encontrados em fósseis com muitos
milhares de anos. Tripler acredita que a nossa reconstituição depois da morte será possível
por mecanismo semelhante a simulações de computador.
John Leslie, professor de Física Quântica no Canadá,
no livro "Immortality Defended" opina que somos simples aspectos dum
cosmos "existencialmente unificado" que existia antes de nós e persiste
para além de nós.
E o filósofo de
Harvard Robert Nozic era mais rebuscado: a "energia organizada" da
pessoa morta passa a novo universo criado à sua imagem—não percebo bem o que
isto quer dizer, se quer dizer alguma coisa. Mas Nozic aconselhava: primeiro,
imagina a melhor forma de eternidade; depois vive a vida como se isso fosse
verdade; e quem sabe se não é verdade?—a vida é uma grande surpresa! Ao que o prosador Vladimir Nabokov
acrescentava: não vejo, de facto,
porque a morte não pode ser uma surpresa ainda maior.
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