domingo, 14 de outubro de 2012

OS NOVÍSSIMOS POBRES

.

Além da dita pobreza envergonhada, agora também temos, em menos numerosos mas mais notáveis casos, a pobreza descarada. A de Paulo Campos, por exemplo. O ex-secretário de Estado das Obras Públicas declarou em entrevista televisiva precisar do patrocínio mensal dos pais para viver e criar os filhos. Este dilacerante drama não traduz apenas a profunda crise económica do País: traduz sobretudo a crise moral.
Depois de se ter celebrizado pelo seu papel caridoso no Governo, tão caridoso que é alvo de estudos (policiais, admita-se), o dr. Campos não recebeu um emprego, uma avença, uma ajudinha que fosse. Depois de o dr. Campos plantar na administração dos CTT dois antigos parceiros numa empresa criada exclusivamente inventada para fazer negócios com uma autarquia, os parceiros e os CTT deixaram o benfeitor de mãos a abanar. Depois de o dr. Campos contratar os "chips" de identificação nas Scut a uma multinacional gerida em Portugal por um sujeito que tivera a honra de ser seu assessor, o sujeito e a multinacional deixaram o benfeitor de mãos a abanar. Depois de aliviar o contribuinte em 600 milhões que reverteram para o grupo Ascendi (Mota-Engil e BES), o grupo e o contribuinte deixaram o benfeitor de mãos a abanar. Etc.
Abanam as mãos do dr. Campos e cai o queixo do entrevistador (José Gomes Ferreira), assombrado perante tamanha falta de solidariedade. É este o Portugal que queremos? Um lugar onde a generosidade é recompensada com desprezo e ingratidão? Um lugar onde os altruístas sobrevivem a expensas paternas (e o salário de deputado)? Aparentemente, sim, e é pena. Num país digno, ao menos o Estado teria a decência de garantir o bem-estar do dr. Campos, zelando para que nunca lhe faltasse alojamento, roupa, refeições regulares e visitas semanais da família, entretanto aliviada de encargos.
Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias!
,
Nota do editor—Não estou de acordo com Alberto Gonçalves quando, a terminar, fala em alojamento do Dr. Paulo Campos a expensas do Estado. O seu caso configura, com nitidez cristalina, o exemplo de um "afim", situação claramente do foro da Dr.ª Cândida Almeida, directora, pela Graça de Deus, do DCIAP.
...

Sem comentários:

Enviar um comentário