[...] O Governo tramou-se porque mexeu no bolso dos comentadores (políticos, jornalistas e afins). Há um ano, quando um saque ainda maior foi feito aos funcionários públicos e pensionistas, não se ouviu metade da berraria.
Descontando a discussão sobre se o Governo precisa ou não dos milhares de milhões que nos vai cobrar a mais, eu, que vou ver os meus rendimentos altamente depauperados, vejo justiça na solução encontrada. Tão simples como isto: quem ganha mais, vai pagar mais.
Paulo Baldaia in "Diário de Notícias"
[...] A imagem negativa do municipalismo é pública (nos
dois sentidos) e a sua congeminação está inteirinha a cargo dos próprios
autarcas.
Que se saiba, são eles que contraem dívidas
extravagantes, cozinham arranjinhos, servem compinchas, iniciam obras
perpétuas, patrocinam "arte" e rotundas, distribuem sacos azuis,
arrasam património, dormem com os "agentes" da bola, desfeiam as
cidades, negoceiam "cunhas", plantam empresas municipais, passeiam
prepotência, inauguram "multiusos" sem uso nenhum, atentam contra a
língua portuguesa que enchem de "paulatinamentes" e
"alavancagens", prestigiam "certames" engendrados por
amigos, mandam os motoristas catar a descendência à escola e, pelo menos num
caso, recorrem ao mesmo motorista e ao mesmo transporte financiados por
dinheiro alheio para atravessar metade do território pátrio e comparecer, todas
as semanas, num debate televisivo (sobre futebol, claro).
A propósito: em funções ou fora delas, um vereador a
desfilar no banco traseiro de um automóvel de alta cilindrada pago pelo
contribuinte é dos mais fiéis retratos da nossa desgraça. Ali, escolhido pela
casta partidária e eleito numa lista de anónimos, não vai apenas uma
irrelevância convencida do contrário, nem somente um símbolo do regime, nem
sequer uma metástase da triste democracia que jovialmente erguemos: ali vai o
país.
Alberto Gonçalves
in "Diário de Notícias"
.
[...] Há um sem
número de coisas que, como nos casamentos, criam a união nos países em dificuldades—história
comum, guerras travadas em conjunto, filhos comuns, inimigos comuns. Mas a
crise económica na União Europeia está a agravar as queixas.
Muita gente na Catalunha e na Flandres, por exemplo, diz
que paga mais para o tesouro nacional do que recebe, em particular quando o governo
nacional corta nos serviços públicos. Neste sentido, o argumento regional é a
miniatura do argumento nacional na União
Europeia, onde as nações ricas do Norte, como a Finlândia, a Alemanha e a Áustria,
se queixam de que a sua relativa riqueza e sucesso estão a ser drenados para
manter nações como a Grécia, Portugal e Espanha a flutuar [...]
Steven Erlanger in "The New York Times"
.
Sem comentários:
Enviar um comentário