Em entrevista à "Renascença", Pacheco Pereira diz que o divórcio entre os portugueses e a classe política é evidente; que está em curso um processo de desertificação das elites políticas, principalmente nos partidos; que o pessoal político de topo, que chega ao poder por eleições, democraticamente, nos dois grandes partidos—PSD e PS—não tem qualquer espécie de prestígio social; e que restabelecer a confiança da população na classe política é tarefa complicada.
Está tudo certo, confirmado pela prova dos noves fora e pela prova real. Há muito se percebeu ser a política meio a evitar para não ser atingido pelo labéu de trampolineiro, oportunista, profissional do nada, corrupto até—ou, na terminologia da Dr.ª Cândida Almeida, "afim".
Pegue-se num Zezito, some-se-lhe um Vara, mais um Relvas,
mais blá, blá, blá, e quem ser tomado por membro de tal congregação? O blá,
blá, blá enchia um volume do tamanho dos Lusíadas, com muitos mais cantos e encantos.
Restabelecer a confiança da população na classe política
é tarefa complicada, diz Pacheco Pereira. É verdade, sobretudo porque a classe
política dá a imagem de já ter percebido tudo, mas é incapaz de recuar e
emendar o que escandaliza o povo—a carne é fraca e a vergonha nenhuma.
E quando se chega a tal fase, as coisas não mudam com bons modos. Vem nos
livros de História. Em todos. E quem tem alguns anos já assistiu a esse filme
várias vezes, aqui e ali.
Atracção pelo abismo, diz-se. Apetite insaciável, falta
de auto-controlo, falta de senso, falta de vergonha, um horror pornográfico a
que os portugueses assistem impotentes e resignados porque lhes dizem que a democracia
é assim.
O problema maior é que a situação pode acabar mal e
ameaça fazê-lo. Já faltou mais.
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