sexta-feira, 5 de outubro de 2012

PORREIRO PÁ

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Em entrevista à "Renascença", Pacheco Pereira diz que o divórcio entre os portugueses e a classe política é evidente; que está em curso um processo de desertificação das elites políticas, principalmente nos partidos; que  o pessoal político de topo, que chega ao poder por eleições, democraticamente, nos dois grandes partidosPSD e PSnão tem qualquer espécie de prestígio social; e que restabelecer a confiança da população na classe política é tarefa complicada.
Está tudo certo, confirmado pela prova dos noves fora e pela prova real. Há muito se percebeu ser a política meio a evitar para não ser atingido pelo labéu de trampolineiro, oportunista, profissional do nada, corrupto até—ou, na terminologia da Dr.ª Cândida Almeida, "afim".
Pegue-se num Zezito, some-se-lhe um Vara, mais um Relvas, mais blá, blá, blá, e quem ser tomado por membro de tal congregação? O blá, blá, blá enchia um volume do tamanho dos Lusíadas, com muitos mais cantos e encantos.
Restabelecer a confiança da população na classe política é tarefa complicada, diz Pacheco Pereira. É verdade, sobretudo porque a classe política dá a imagem de já ter percebido tudo, mas é incapaz de recuar e emendar o que escandaliza o povo—a carne é fraca e a vergonha nenhuma. E quando se chega a tal fase, as coisas não mudam com bons modos. Vem nos livros de História. Em todos. E quem tem alguns anos já assistiu a esse filme várias vezes, aqui e ali.
Atracção pelo abismo, diz-se. Apetite insaciável, falta de auto-controlo, falta de senso, falta de vergonha, um horror pornográfico a que os portugueses assistem impotentes e resignados porque lhes dizem que a democracia é assim.
O problema maior é que a situação pode acabar mal e ameaça fazê-lo. Já faltou mais.
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