O “Large Hadron Collider” é um fenomenal laboratório pertencente ao CERN, localizado na fronteira entre a Suíça e a França perto de Genebra, a 100 metros de profundidade, com um túnel circular de 27 Km de comprimento onde poderão ser postos em movimento feixes de protões a velocidades incríveis e em sentidos opostos. Têm os investigadores a possibilidade de desencadear choques frontais entre os protões animados de enorme energia cinética, provocando a sua “destruição”. Estes fenómenos passam-se em áreas onde estão instalados sensores para analisar os fenómenos assim desencadeados e as características das partículas geradas. Perguntar-se-á qual a piada desta brincadeira com os protões. Gostaria de falar das partículas antes de responder mas, ainda assim, peço que se imagine um tubo onde se lançam dois morangos em sentido contrário e que do choque entre eles resultam quatro morangos, duas bolotas, uma banana , duas laranjas e um limão. É isso que se espera aconteça no acelerador de partículas do CERN!
Só duas palavras sobre partículas para perceber melhor. Em meados dos anos 30 sabia-se que a matéria era constituída por átomos e estes por um núcleo central onde moram duas espécies de partículas: os protões, com carga eléctrica positiva e, na maioria deles, os neutrões, sem carga eléctrica. Em volta desta estrutura gravitam pequenas partículas com carga negativa, em número igual ao dos protões do núcleo, chamadas electrões. Pensava-se ter chegado à mais pequena estrutura da matéria, mas não.
Por métodos que não interessam agora, chegou-se à conclusão de que havia mais pequeno. Afinal, tudo aquilo é feito de quarks e leptões. São seis exemplares de cada tipo, sendo o electrão um leptão. E essas partículas podem decair e transformar-se. E há ainda um número elevado de partículas que não estão bem estudadas. E, em matéria de massa e energia, têm comportamentos estranhos, não se verificando fronteira nítida entre uma e outra. Com pouca massa e muita energia, podem originar muita massa com menos energia. Daí o exemplo anedótico de dois morangos a dar fruta para abastecer o Mercado do Bolhão. E assim pode ter acontecido no Big Bang da origem do Universo.
Por isso, as investigações planeadas para o acelerador do CERN, que já retomou o funcionamento depois da avaria sofrida no ano passado, têm a maior importância. Tal como a descoberta do Ardipithecus ramidis, ontem referida, e a emergência da Epigenética tratada há dois dias, estes estudos têm, além de importância científica, implicações filosóficas, sociológicas e religiosas porventura ainda mais notórias que aquelas. Em minha opinião, a retoma do trabalho científico no CERN é o acontecimento científico mais importante do ano de 2009.
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*O hadrão é um conjunto de quarks mantido coeso por uma força específica. Os protões e neutrões são hadrões (os electrões são leptões).
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