sábado, 26 de dezembro de 2009
OPINIÃO PÚBLICA, COMUNICAÇÃO SOCIAL E PAPAGAIOS AMESTRADOS
Nada mais estranho que certas correntes de medo colectivo instaladas periodicamente na sociedade e caídas no esquecimento em curto prazo. Há na História para todos os gostos, desde o receio do holocausto nuclear até à gripe das aves. Neste momento há dois temas “a dar”: o aquecimento global e a gripe suína.
Perguntar-se-á como é possível mobilizar tanto medo para um fenómeno físico da natureza que nem sequer está bem estudado e compreendido e cujas consequências são totalmente hipotéticas; ou para uma infecção viral benigna de que a humanidade e a Medicina têm conhecimento há longos anos. A resposta é simples: é possível porque a comunicação social quer.
Um alienígena chegado de supetão à Terra e confrontado com esta expressão - comunicação social -, pensaria em formas de transmissão de conhecimento, informação, ideias, opiniões e coisas assim entre os terráqueos, ocorrendo essa transmissão em todas as direcções - vertical, horizontal, oblíqua e por aí fora - e também nos dois sentidos de cada direcção. Mas pensaria mal, porque a transmissão se faz exclusivamente numa direcção e, nessa direcção, apenas num sentido. Há apenas dois corpos comunicantes, um microcorpo e um colossal megacorpo, limitando-se este a ser receptor do fluxo originado no primeiro. E, se considerarmos que a maior parte do microcorpo é apenas instrumento de um núcleo restrito, verdadeiro nanocorpo, que o tutela política, filosófica, religiosa, etica, e laboralmente, chega-se à triste conclusão que nunca tão poucos influenciaram tantos tão eficazmente. O que chamamos de opinião pública é afinal conversa de papagaio ensinada por serventuários do politicamente correcto, ou lacaios de interesses económicos, de grupos de pressão, do próprio jornal, rádio ou televisão que lhes dá trabalho.
Tal panorama desfoca a realidade e gera uma visão pessimista do mundo porque as histórias que atraem audiências são os dramas humanos e não as boas notícias abstratas e de difícil digestão intelectual. Vive-se na crença pessimista e errada da caminhada da humanidade para o abismo. Um exemplo? Qual a percentagem de homens que terão sido mortos em actos de violência nas sociedades de caçadores-recolectores? Cerca de 30%. Qual a percentagem de homens que morreram de forma violenta no Século XX, incluindo duas guerras mundiais com duas bombas atómicas? Cerca de 1%! Quem tem esta visão que dá esperança? Muito poucos. Pensa-se que estamos em acelerado processo de involução social? Pensa-se, mas pensa-se mal. E de quem é a culpa?
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