domingo, 27 de dezembro de 2009

CIÊNCIA 2009: O PÓDIO D’ “O DOLICOCÉFALO”


Aproxima-se o fim do ano, época de fazer balanços. A Ciência é sempre objecto de tal atenção. Nesta matéria, é muito difícil avaliar o que foi mais importante porque o relevo dos factos depende, entre outras coisas, das consequências que produzem e tal não se conhece em cima dos acontecimentos. Toda a opinião é subjectiva. Postas estas reservas, também tenho opinião - pois claro! - e vou referir três histórias que mais me impressionaram no mundo científico em 2009. Para descongestionar, será publicada uma por dia.
A primeira tem indirectamente a ver com Darwin, mas tem mais com um seu competidor, o biólogo francês Jean-Baptiste de Lamarck. Resumidamente, dizia Lamarck que o meio ambiente e o comportamento dos seres vivos nesse meio pode fazer adquirir características anatómicas e funcionais novas e que tais características são transmissíveis à descendência. Isto não é contra a teoria de Darwin, mas este acreditava que as modificações observadas na evolução eram só consequência da selecção dos mais aptos e nunca de modificações funcionais dos genes. Para dar um exemplo inventado por mim (que é anedótico e não vale nada), segundo Darwin, a girafa tem pescoço comprido porque os exemplares da espécie de pescoço curto tinham dificuldade em alimentar-se nas árvores e foram desaparecendo. Segundo Lamarck, o pescoço das girafas poderia crescer em consequência do esforço para chegar ao alimento nas árvores e tal característica era transmitida à descendência, criando uma espécie de longos pescoços.
A teoria de Lamarck nunca foi bem aceite e caiu em descrédito. Mas agora surgem novas notícias. Em Fevereiro foi publicado o resultado de um trabalho feito em ratinhos com deficiência da memória induzida por engenharia genética. Os animais, através de treino especial de socialização e outras formas de estimulação conseguiam aprender muito mais do que os não estimulados e socializados e transmitiam esses ganhos aos descendentes.
Em Novembro, outra experimentação foi feita em ratinhas grávidas alimentadas com dieta muito rica em gordura. Os filhos nasceram maiores que o normal e eram insensíveis aos efeitos da insulina. Estas características transmitiam-se aos filhos, netos das ratinhas submetidas à experimentação.
A influência exterior nos genes é objecto de uma corrente de investigação actual, a epigenética. Independentemente de provavelmente levar à revisão de uns tantos conceitos da teoria darwiniana, tem consequências práticas para a compreensão de doenças genéticas e da forma como actuam alguns medicamentos, nomeadamente no tratamento do cancro.

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Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck, na foto superior.

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