domingo, 6 de dezembro de 2009

O ESCÂNDALO DAS ELITES E O GENOMA TOLERANTE PORTUGUÊS

Patrick Daniel Tillman foi uma estrela do "Arizona Cardinals", a mais antiga equipa de futebol americano. Em Maio de 2002, alistou-se nos "United States Army Rangers" e serviu no Iraque e no Afeganistão, onde foi morto por fogo de americanos. Foi condecorado com a Medalha de Prata do Exército, o que levantou alguma polémica. O comandante das forças especiais no Afeganistão assinou um relatório e prestou declarações no Congresso em que deu conta das circunstâncias acidentais da morte. Este ano, veio a saber-se que a morte de Pat Tillman foi um homicídio cometido pelos seus homens, facto do conhecimento do referido comandante. Qualquer militar de baixa patente que tivesse feito o mesmo seria expulso do Exército e estaria sujeito a pena de prisão até 5 anos. Mas este não. É agora comandante máximo das forças americanas no Afeganistão, o general McChrystal!
Philip Jones é climatologista, professor na Faculdade de Ciências do Ambiente da Universidade de East Anglia e foi até há dias director da "Climatic Research Unit" (CRU), no Reino Unido. Há semanas, um grupo de hackers conseguiu entrar no sistema informático da CRU e copiar 1.073 e-mails trocados entre investigadores da unidade e investigadores de outros países, sobretudo dos Estados Unidos. Embrulharam tudo num ficheiro zipado e puseram-no à disposição da comunidade internacional.
O Professor Jones é um defensor do papel do homem no aquecimento
global, através da produção de dióxido de carbono, e as suas observações têm-se concentrado nessa matéria, nomeadamente usando a paleoclimatologia. E o que a correspondência violada parece mostrar é o uso de métodos pouco honestos, no sentido em que há um tom geral a deixar transparecer conluio entre cientistas para abafar o que contraria as suas demonstrações: sinteticamente, cooperação de investigadores para favorecer a publicação do que convém às suas teses e boicote dos jornais científicos que publicam outras; manipulação de dados; e filtração de informação para impedir o acesso de outros investigadores. Uma lástima do ponto de vista da Ciência!
Num comunicado, a Unidade de Investigação começa já a sangrar-se em saúde ao dizer: É evidente que os elementos mais ruidosos da blogosfera vão fazer muito barulho. Mas é importante lembrar que a Ciência não avança com pessoas que são sempre correctas (polite at all times). Pior a emenda que o soneto!
Mas porque se fala destas histórias? Porque elas são ilustrativas dos tempos que vivemos, no mundo e sobretudo em Portugal. Duas personalidades da elite social de dois grandes países vêem-se subitamente apresentadas à opinião pública em situações suspeitas da mais alarmante falta de carácter e, ou não se explicam, ou dizem coisas patéticas.
Lá como cá. Diariamente somos sujeitos ao espectáculo deplorável da troca de acusações graves nas altas instâncias da Pátria, sem que daí
resulte alguma consequência, nem se assista ao mais insignificante gesto a traduzir um pouco de vergonha.
Estamos, infelizmente, imunizados contra o escândalo das elites. Assumimo-lo como fatalidade contra a qual não adianta reagir, como se isso fosse uma característica nossa de adaptação ao meio, resultante de mutação genética apurada por muitos anos de selecção natural. Darwin está sempre por aí!

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