quarta-feira, 29 de agosto de 2012

VENTANIAS

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Nas noites de 28 e 29 de Agosto de 1859, faz hoje 153 anos, uma brutal tempestade solar — com emissão de violentíssimos "ventos" de partículas eletricamente carregadas (protões e electrões) — causou auroras (aurorae borialis) visíveis em quase todo o mundo, e grandes transtornos nas redes do telégrafo. Os jornais encheram-se de descrições excitantes e muito provavelmente burras — digo eu, pelo conhecimento que tenho dos jornalistas — os poetas conceberam e os pintores não conseguiram verter na tela toda a inspiração que aquelas imagens fizeram brotar nos encéfalos de excepção que são os deles.
O "The New York Times", em estilo de jornal de Alguidares de Baixo, escrevia que os indígenas da cidade tinham assistido a uma coisa que só se vê uma ou duas vezes na vida, "com o céu decorado com lindíssimas colchas como não se via há anos". E em Havana, naquelas noites, "o céu parecia tingido com sangue, num estado de conflagração geral" — bonito, sem dúvida. Só não tenho pena por não ter assistido porque, se tivesse visto, já tinha batido as botas.
Vento solar há sempre, com se sabe e disse há dias. É constituído por partículas positivas e negativas, que se libertam da gravidade do Sol, e atravessa todo o Sistema Solar a grande velocidade até ao espaço interestelar, onde "morre" na heliopausa. Forma uma "bolha" muito grande em volta da nossa estrela, quase tão grande como a bolha financeira que nos atirou de patas ao ar.
No vento da bolha financeira, não há partículas positivas — é tudo negativo! Por isso é que dá sempre bota. O esperto B pede 100€ a A com juro de 1%; depois empresta-os a C, com juro de 2%; o C empresta ao D, com juro de 3%; blá, blá, blá. Resumindo e concluindo, A, B, e C são todos credores de 100€, o que faz uma fortuna patrimonial de 300€, mas é tudo mentira — na realidade, só há uma "laberca" de 100€: o resto é falso e esperteza de vigarista, mais nada.
É do vento dos mercados financeiros que se deve ter medo, porque do vento solar a Terra defende-se bem com o campo magnético que afasta as partículas todas. Pena que não afaste também os vigaristas de Wall Street e outros sítios mal afamados, e não os mande para o Diabo que os carregue mais velozes que um hadrão no aceleredor de partículas de Genebra.
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