A moda, ou antes aqueles que a fazem, acaba de tomar uma
resolução sapientíssima. Paris, de ora em diante, fica sendo considerado, durante
os meses de Verão, para todos os efeitos sociais, como campo e não como cidade.
E permitido, portanto, passear, fazer visitas, ir ao teatro, etc., de chapéu de
palha, jaquetão claro e botas brancas. Nada mais justo. Era com efeito absurdo
que Paris nos servisse trinta graus à sombra – e que os Parisienses
continuassem a sofrer a tirania da sobrecasaca apertada e do duro chapéu alto.
A moda mesmo deveria ir mais longe e permitir a tanga. O vestuário foi
inventado por causa da temperatura, e deve portanto variar com ela
harmonicamente. A neve pede peles, peles suplementares, arrancadas a animais. O
sol do Senegal ou de Paris, em Julho, só pede a própria pele – sem mais nada,
além de uma folha de vinha. Esta seria a lógica das coisas. A moda não ousou ser
tão radical – e foi só até à palha e à alpaca.
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Eça de Queirós in "Ecos de Paris"
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