Tenho falado no facto da vida na Terra acabar
dentro de mil milhões da anos—mais coisa, menos coisa—e no que isso representa
em termos teológicos. Se não há mais homens no universo para manterem a
espécie, é caso para perguntar porque ocorreu neste canto do universo esta explosão fátua
de inteligência, privilegiada com uma qualidade especial chamada alma que lhe
garante a eternidade.
O argumento da existência de Deus chamado do Plano Divino
diz que só com a intervenção d'Ele era possível reunir as condições necessárias
à nossa existência. Embora tal argumento tenha sido contestado, mesmo ridicularizado,
dizendo-se, por exemplo, que os coelhos têm a ponta do rabo branca para
facilitar a pontaria aos caçadores, e que o nariz do homem é como é para poder
usar óculos, a verdade é que se mantém com crédito em muitas escolas, não obstante Darwin ter explicado muitas coisas, nomeadamente que o meio não é assim por causa dos seres vivos,
especialmente do homem, mas os seres vivos, incluindo o homem é que são assim
porque tiveram de se adaptar a esse meio.
Mas é sobretudo a perspectiva do fim do homem a prazo
certo que não encaixa no argumento. Os defensores deste contestam
que, a ser a perspectiva real, a coisa seria tão deprimente que ninguém conseguia viver.
Vale a pena meditar sobre isto. Todos sabemos que
vamos morrer um dia, mas ninguém, ou quase ninguém, vive apavorado com isso. Os jovens
porque acham que ainda falta muito tempo, os velhos porque esperam ainda alguma
folga e assim se confortam. Porque iria alguém preocupar-se com o
desaparecimento de toda a gente daqui a mil milhões da anos? Esta não cabe na
cabeça!
Em minha opinião, a ideia mais sensata seria acabar com a
fantasia de tentar provar a existência de Deus através do raciocínio lógico.
Ninguém consegue provar que existe, tal como não consegue o contrário. O
problema é matéria de fé que não é discutível, pela própria definição desta.
Assim, talvez se chegue a um acordo, desde que não crentes, e sobretudo os crentes mantenham atitudes
razoáveis e se abstenham de fundamentalismos teológicos que têm sido historicamente
uma praga de todas as religiões, completamente actuais nalguns casos.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário