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Já
aqui falei de João Lemos Esteves, que não conheço de lado nenhum — nem da tropa!—,
jovem que escreve bem e gosta de "malhar" na esquerda, talqualmente
Santos Silva "malha" na direita; e "malha" onde dói, o que enfurece os canhotos. Escreve no "Sol" e há dois
dias, um depois do "dia maior", escreveu assim, sob o título Marcelo, o nacionalista-comunista? What? :
1. Marcelo Rebelo de Sousa cumpriu a tradição: o Presidente da
República deslocou-se à Assembleia da República para proferir o discurso de
evocação do 25 de Abril de 1974. Desta feita, não levou cravo na mão, nem na
lapela – apenas pegou a dita flor simbólica do “primeiro dia do resto da vida
de Portugal" à saída da (tida como) casa da democracia portuguesa.
2. É uma evolução do Presidente Marcelo face ao comentador
Marcelo que nos acompanhou durante mais de uma década: nos últimos anos do
Presidente Cavaco Silva, na TVI, Marcelo criticou o formato tradicional das
comemorações do 25 de Abril, denunciando um evidente desfasamento entre a elite
política e o povo.
Ontem, no entanto, Marcelo já veio afirmar que, afinal, faz
sentido realizar a sessão solene no Parlamento, ainda que distante do tal
“povo”. Ai, que saudades do comentador Marcelo!
3. Dito isto, muitos analistas limitaram-se a concluir que o
discurso de Marcelo serviu para elogiar o trabalho da actual maioria, apelar e
puxar pela social-democracia (Marcelo é o verdadeiro social-democrata, ui, ui!)
– mas, simultaneamente, distanciar-se em áreas específicas da governação para
ter margem de manobra para intervir no futuro.
Quanto à frase emblemática em que Marcelo apela ao “nacionalismo
mas patriota” (what? Nacionalista mas patriota…mas que raio é isto?), os
comentadores desvalorizam esta frase, dizendo que é Marcelo a apelar…à
transparência pública!
4. Muito bem: Marine Le Pen quando se afirma nacionalista, na
verdade, o que pretende é tão só a transparência da vida pública. Registamos:
não percebemos então por que razão estes comentadores do regime e do politicamente
correcto (os mesmos de sempre!) manifestam depois imensa preocupação com a
vitória de Le Pen por esta ser a candidata nacionalista…Afinal, não querem
transparência na vida pública?
[...]
Marcelo, e agora digo eu, é um homem perigosamente inteligente, mas nem só de inteligência se faz um político. Mais que dela, precisa o político de senso comum que, por exemplo, Trump também não tem; de total ausência — pelo menos aparente — de imposturice, um dos "fortes" de Marcelo; de modéstia, que não é ir engraxar os sapatos ao Largo Visconde da Luz acompanhado do fotógrafo, ou comer pataniscas de bacalhau ao balcão duma tasca qualquer; e de um nadinha de sentido de Estado para perceber que o cidadão Marcelo não vai tomar banho à Praia dos Pescadores em Cascais, regressando a casa descalço, se está investido nas funções de Presidente da República.
Marcelo é um mito, naturalmente muito popular porque gosta de ouvir que "lhe puxa o pé para a chinela"; mas, na realidade, um homem vaidoso e, como todo o vaidoso, perigoso. Mais ainda porque é um vaidoso inteligente, hiperactivo e com uma atracção mórbida pela ribalta.
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