segunda-feira, 10 de julho de 2017

CENTENO, PORQUE ÉS ASSIM P'RA MIM ?

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[...] Centeno conseguiu um equilíbrio notável entre a percepção pública e a sua gestão das Finanças. De manhã, nas conferências, vociferava contra as políticas da austeridade e anunciava um novo caminho. De tarde, na solidão do seu gabinete, aplicava doses brutais de contenção de despesa. Foi assim que reduziu o investimento público a grãos de areia. E foi assim que fez passar um orçamento de estado para 2016 que, devolvendo rendimentos aos funcionários do Estado, apertou o cinto dos serviços públicos sob a forma de cativações. Os 1734 milhões de euros em cativações previstos no Orçamento de Estado para 2016 foram um novo máximo. E os 943 milhões de euros em cativações realmente postas em prática foram recordistas. Nunca a despesa dos serviços públicos havia sido alvo de uma mão-de-ferro tão inflexível e tão despercebida. O défice de 2,1% (que vai para além do exigido em Bruxelas e que o PS orgulhosamente exibe em outdoors) foi a vitória da estratégia de Centeno. [...]

[...] À custa da tragédia de Pedrógão Grande e do roubo em Tancos, o estrangulamento dos serviços públicos – nas áreas da Administração Interna e da Defesa, mas não só – tornou-se uma realidade impossível de negar. Demorou, e aconteceu da pior forma, mas o país acordou finalmente para a grande mentira de que a austeridade tinha acabado. E agora? Agora, o logro das alternativas terminou. Agora, ficou claro que, sem reformar o Estado, não se pode fugir à dependência em Bruxelas e à contenção orçamental. Ou se corta salários e pensões, ou se camufla o problema esmagando os serviços públicos. E, rejeitando a primeira, será essa degradação do Estado o preço que o BE e o PCP terão de pagar para manter a geringonça, já no próximo orçamento de estado. À vista de todos e sem desculpas (o destaque é meu).

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Alexandre Homem Cristo in "Observador" online (10-07-2017)
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