Falávamos ontem das tonturas que o telescópio de Galileu fazia ao seu colega de cátedra na Universidade de Pádua Cesare Cremonini, dos argumentos de autoridade, e de todo esse obscurantismo científico, muito nítido para quem o olha retrospectivamente no dia 22 de Maio de 2012, mas natural e louvado no tempo de Cremonini. Ser submisso e respeitador dos grandes nomes do saber era virtude científica superior, por maior que fosse a burrisse do grande nome.
A este propósito, encontrei um trecho de Girolamo Borrio, também conhecido por Borro, professor de Filosofia na Universidade de Pisa quando Galileu era ali aluno, autor da inesperada obra “Diálogo do Fluxo e Refluxo das Marés” (Dialogo del flusso e reflusso del mare), verdadeira pérola repleta de enternecedora estupidez, que reza assim:
Falo aos meus ouvintes da forma seguinte: reparem, isto é
ensinado por Aristóteles, aquilo é a opinião de Platão; assim fala Galeno, e
assim Hipócrates. Quem me ouve reconhece: as palavras de Borrio são de completa
confiança porque nem uma delas é dele; pelo contrário, as mais ilustres mentes
falam pela sua boca. Se tenho pensamentos que não encontro nas suas obras,
desembaraço-me de tais pensamentos de imediato por serem suspeitos; ou ponho-os
de lado até ficarem velhos e morrerem antes de ver a luz do dia.
Que besta, digo eu. Ah ganda Borrio!
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