segunda-feira, 21 de maio de 2012

O PAUZINHO NA ENGRENAGEM

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Empirismo é a forma suprema de aquisição do conhecimento. O termo é muitas vezes usado como sinónimo de forma não sofisticada de aprendizagem, mas é, na realidade, a base da investigação científica. O investigador aprende com a experiência, não com o que diz ou escreve a autoridade “oficial”. Disso ficámos fartos e estamos curados. Darwin que o diga. Galileu também.
O lema da "Royal Society of London", a principal instituição científica inglesa, é Nullius in Verba, que significa não tomes a palavra pela verdade, referindo-se naturalmente à verdade científica. É preciso basear o conhecimento em provas materiais e não em doutrina teórica, muitas vezes contaminada por viés político, religioso, filosófico, étnico, ou outro de semelhante teor.
No tempo de Galileu, a doutrina oficial era o aristotélico geocentrismo, com a Terra no centro do universo e todos os astros, perfeitamente redondos e lisos, a circular em rigorosas órbitas circulares à sua volta. Galileu construiu um telescópio rudimentar e viu montanhas na Lua, manchas no Sol (sunspots), fases em Vénus, satélites em Júpiter e anéis em Saturno. Correu para o seu colega na Universidade de Pádua, Cesare Cremonini, para lhe mostrar. Cremonini nem quis espreitar: recusou-se a olhar pelo telescópio de Galileu, alegando ter a certeza que Aristóteles estava certo; e também que espreitar pelo tubo lhe fazia tonturas!
Outros colegas de Galileu diziam que aquele tubo só era fidedigno para coisas na Terra. No espaço, dava informações erradas. Um professor do "Collegio Romano" insinuava que Galileu havia posto os quatro satélites de Júpiter dentro do telescópio. E os professores de Florença acreditavam que não havia nada mais para descobrir na natureza - estava tudo nos livros, segundo eles.
Estamos a falar de homens de ciência, não de autoridades religiosas com um viés que a gente compreende. Mas eram homens de ciência do Século XVI e isso os desculpará. Contudo,  hoje, Senhor, hoje, porque continuamos a cultivar o obscurantismo do argumento de autoridade? Porque há ainda tanta gente que se recusa a espreitar pelo telescópio de Galileu, porque tem medo, acha que está tudo explicado, ou fica com tonturas?
O medo das tonturas do telescópio é o pauzinho na engrenagem do progresso intelectual. Sem tirar, nem pôr!
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