Houve em França subitamente uma queda, ou antes, um
desconjuntamento de ministério. Os ministros, que eram uns de substância
radical e outros de substância conservadora, estavam mal grudados. O calor das
primeiras discussões, na câmara nova, descolou estes pedaços heterogéneos de
poder executivo. Imediatamente, porém, se manufacturou outro Governo. E a única
feição desta crise, digna de ficar nas crónicas, foi o ter aparecido de
repente, e por motivo dela, um homem de Plutarco.
Este homem é o Sr. Banhou.
É necessário reter este nome – Banhou – porque ele
representa um justo. A Bíblia diria um «vaso de eleição»; mas esta imagem é
arriscada e dá lugar a equívocos lamentáveis, quando se trata de homens e de
coisas parlamentares.
Quem é o Sr. Banhou?
Um político e, portanto, um ambicioso. Além disso, um
inteligente e ardente.
E que fez o Sr. Banhou?
O Sr. Banhou realizou um feito sem precedentes na
história constitucional: convidado, nesta nova organização de ministério, para
secretário de Estado das Colónias, recusou.
E recusou por um motivo que o eleva justamente a essas
alturas morais em que Plutarco se começa a entusiasmar. O Sr. Banhou recusou,
porque (segundo disse) «não estava habilitado, nem pelos seus estudos
anteriores, nem pela experiência, a tomar conta dessas funções». Conhecem
alguma resolução mais heróica? Eu não conheço. Um político de profissão, um
ambicioso que se nega a entrar num ministério por não se considerar competente,
nem teórica, nem experimentalmente, para gerir um certo ramo da administração –
é verdadeiramente prodigioso! E nós todos os que nascemos sob o regime das cartas
constitucionais não podíamos realmente supor que existisse algures, nesta
Europa política e parlamentar, um bacharel que sinceramente se julgasse inapto
para governar, do fundo do seu gabinete, fumando a cigarette do poder,
as colónias do seu país!
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Eça de Queirós in "Ecos de Paris"
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