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Quando se fala em ciência, é usual pensar-se nas teorias
que explicam fenómenos físicos e astronómicos, ou as doenças e a reprodução
dos seres vivos e coisas assim; ou então, nas aplicações práticas dela
resultantes através da tecnologia, como a televisão, a navegação aérea, o
telemóvel e por aí fora. Na realidade, a ciência está cronologicamente a
montante de tudo isso porque é “apenas” um método de trabalho mental que
permite o atrás referido e muito mais; método de trabalho mental superior, com
regras rigorosas e incontornáveis, sem o que o seu fruto pode chamar-se qualquer
coisa, mas não matéria científica - como a astrologia, a homeopatia, a
telepatia, etc. A ciência não emite juízos de valor sobre esses fenómenos
culturais. Limita-se a dizer que não têm fundamento científico porque as suas
teses não estão baseadas no método mental que é a ciência.
Da aplicação do método a objectos diferentes resultam
disciplinas também diferentes, como a Biologia, a Física, a Psicologia, a
Astronomia, blá, blá, blá. São as ciências puras, porque há outras que, não
sendo impuras, podemos chamar de híbridas ou coisa desse tipo, como a Medicina, a
Engenharia, ou o Direito, que se ocupam dos aspectos teóricos do objecto e
também da sua aplicação na prática – fazem o casamento da ciência com a
tecnologia, embora em graus diferentes, dependendo do enquadramento e do
interesse do encéfalo envolvido.
Lembrei-me disto porque li hoje o artigo dum jornalista
chamado Tom Standage, com o título, longo mas esclarecedor, de “PODE
DEMONSTRAR-SE QUE UMA COISA É INDISCUTIVELMENTE PERIGOSA, MAS NÃO QUE É
INDISCUTIVELMENTE SEGURA”. Na realidade, o método científico é de tal maneira
exigente que nos deixa nesta caricata situação.
Por exemplo, até ao Ano da Graça de 1697, dizia-se que
não havia cisnes pretos. E porque se dizia tal coisa? Naturalmente, porque
nunca alguém tinha visto um cisne preto; logo, estava na cara que não existia. Asneira!
Porque nunca se viu uma coisa, não pode afirmar-se que não existe: é dos livros.
O método científico assim manda. No referido ano 97, Willem de Vlamingh
encontrou cisnes pretos na Austrália e o mundo científico caiu de cu. Ficou tão
abalado, que a expressão “cisne preto” passou a designar toda a descoberta
científica inesperada e imprevisível, fosse uma galáxia nova com 20 estrelas iguais à Angelina Jolie, ou a galinha com dentes. A teoria da relatividade de
Einstein, ou a teoria heliocêntrica de Galileu, foram "cisnes pretos", sim
senhor.
Por isso os cientistas são muitas vezes chamados de
chatos e desmancha-prazeres quando começam a complicar com aquilo que está
mesmo a ver-se que é assim ou assado – uns picuinhas, está bom de ver. Mas o
problema é que a experiência já os ensinou a ter cuidado. E cuidado e caldos de
galinha nunca fizeram mal a ninguém. Os caldos de cisne preto é que sim.
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