Mas há algumas que são de se lhes tirar o chapéu. Por exemplo as de Platão, Aristóteles, Miguel Ângelo, Galileu, Leonardo da Vinci, Einstein, Newton, Mozart, Stravinsky, Gandhi, Gorbachev, Hitler, Stalin, bin Laden e por aí fora. São muitos? Todos juntos, são uma gota no oceano humano: aquela coisa de que falava Churchill, dos tantos que devem tanto a tão poucos - devem, talvez não seja o termo correcto porque nos tão poucos estão tipos como Hitler, Stalin e bin Laden. Digamos que sofreram a influência de tão poucos que fica melhor.
Lembrei-me disto porque estava a pensar que o progresso não
se faz suavemente e com alguma ordem. Na realidade as coisas passam-se aos
solavancos, com acelerações súbitas e inesperadas, travagens bruscas, despistes.
Em regra vivemos um nadinha estagnados a mastigar a última grande descoberta
feita por um génio desses atrás mencionados.
Investiga-se e vai-se
andando um bocado para a frente com tal mastigação. Mas pouco, relativamente. Só quando calha, surge uma ideia, muitas vezes simples mas original, na
caixa pensadora dum génio. É a história do “Eureca!” de Arquimedes, história
falsa transformada em símbolo do que acontece na ciência. E, mais
curioso, tais partos intelectuais acontecem muitas vezes à margem de
qualquer investigação organizada, sistematizada, inspirada e tutelada. É a
serendipidade, tradução rasca do inglês “serendipity”. Pasteur descobriu as
bactérias por acaso, Fleming a penicilina por acaso, Einstein a relatividade quase
por acaso, blá, blá, blá. Mas, como dizia Pasteur, o acaso só favorece a mente
preparada. Aí está a diferença. Provavelmente, outro que visse que, nas
culturas de bactérias que Fleming se tinha esquecido de tapar e estavam contaminadas
por fungos, as bactérias não cresciam, tinha atirado tudo para o lixo e prometido ser mais cuidadoso no futuro para não ter tais esquecimentos.
Serve isto para dizer que os investigadores que todos os
dias tomam o pequeno almoço e entram às 8 ou 9 nos laboratórios e conduzem
pacientemente trabalhos morosos e complicados, são pessoas estimáveis e
indispensáveis. São eles que fazem render ao máximo as grandes descobertas. Mas
habitualmente não as fazem. Isso é trabalho mental de gente
superior, muitas vezes exótica e pouco ortodoxa nos meios e métodos
intelectuais. Mas temos de os aturar, respeitar e apaparicar; sem dúvida.
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